Da série histórias que marcam

Há sempre na vida momentos que marcam a gente. Imprimem na nossa história de vida, deixam escrito algo que mesmo que não perfeitamente lembrado molda nosso comportamento e vez por outra nos vem à mente.

Lembrei noutro dia de um desses casos. Analisando em consulta os exames de um jovem, adolescente, me deparei com algo muito dolorido. Não de uma dor física, mas das que nos doem na alma. Um enorme cisto crescera no osso da face e levaria a perda em grande extensão de osso e dos dentes relacionados.

Mesmo que nos apeguemos ao pensamento de que ao menos não é algo pior, não havia características de malignidade, o que fora confirmado pelo exame hispatológico (laboratorial), ainda assim é uma notícia difícil e triste a se dar.

O tratamento seria longo, difícil e com resultados limitados pela condição encontrada. Colocar-se no lugar do outro é uma necessidade em situações assim, mas toda a empatia do mundo não muda a realidade difícil que aquela família precisaria enfrentar dali adiante. Como pai, senti o peso de dar a notícia e explicar as causas e deixar o mais claro possível o caminho que precisariam seguir, o calvário a ser enfrentado.

Esse momento ficou no passado, mas suas marcas ainda estão em mim e foram revividas qual ferida que se torna a abrir quando há alguns meses recebi o exame de uma nova paciente, dessa vez uma jovem, por volta de seus 11 anos. Lá estava ele, o cisto, dessa vez na mandíbula, entre as raízes dos dentes e já as deslocando para os lados, mas, dessa vez, o diagnóstico a tempo trouxe um desfecho diferente.

Apesar da notícia da presença do cisto e da necessidade de uma cirurgia de remoção, a extensão seria limitada, o resultado seria bom e, assim foi.

Paciente operada e, algum tempo depois, não há mais nenhum vestígio do que cisto que ali estava. Vida que segue, normal, plena e sem sequelas.

Conto essa história para que compreendam a importância de diagnósticos precoces, a importância das consultas com o dentista na fase de troca dos dentinhos das crianças e a extrema importância de intervir para resolver problemas que se agravam muito com o tempo.