No último jogo da Série A2 do Campeonato Carioca, entre Americano e Petrópolis, no estádio Ary de Oliveira, um tema recorrente e desgastante voltou à tona nas conversas com dirigentes do futebol de campista: a cultura do "ingresso de graça". É um problema que aflige tanto o time da casa, o Goytacaz, quanto o Americano, e que reflete uma mentalidade amadorística que emperra o desenvolvimento do esporte em nossa cidade.
O que mais impressiona é que essa prática não parte apenas daqueles que realmente não têm condições de pagar. Pelo contrário, são frequentemente pessoas com alto poder aquisitivo – empresários, advogados, políticos e seus assessores – que insistem em não desembolsar o valor de uma entrada. Eles precisam entender, de uma vez por todas, que o futebol não é um evento gratuito.
O futebol é um negócio, não um favor
Qualquer clube de futebol tem custos altíssimos: salários de jogadores e comissão técnica, manutenção de estádios, despesas com transporte, alimentação, segurança e uma série de outras obrigações. Para cobrir esses gastos, os clubes dependem de diversas fontes de receita: patrocínios, venda de camisas e produtos licenciados, e, crucialmente, a venda de ingressos.
É por negligenciar essa fonte vital de renda que os clubes, em geral, já enfrentaram dificuldades financeiras há tanto tempo. A mentalidade de "jeitinho" ou de "carteirada" para entrar em jogos mina a administração e o planejamento financeiro de qualquer entidade desportiva.
Dirigentes contra o próprio clube
A situação se torna ainda mais grave quando os próprios dirigentes, aqueles que deveriam zelar pelos interesses do clube, são cúmplices dessa prática. Colocar pessoas para dentro do estádio sem pagar, muitas vezes por amizade ou conveniência política, é um verdadeiro desserviço. Essa atitude amadora lesa diretamente as finanças do clube e demonstra uma falta de compromisso com a profissionalização que tanto almejamos para o nosso futebol.
Lembro-me com clareza da minha infância, acompanhando meu avô nos jogos do Americano. Ele, que foi presidente do Conselho Deliberativo do clube, fazia questão de comprar seu ingresso na bilheteria. Era um exemplo raro de se ver, em contraste com outros dirigentes que se valiam da posição para entrar de graça e ainda levar convidados. Essa postura de respeito e valorização do clube é o que precisamos resgatar.
Valorizar o futebol local é um dever de todos
Não consigo compreender por que um torcedor de Campos está disposto a viajar horas até o Maracanã, gastar com transporte, alimentação e ingresso para ver um jogo, mas, dentro da sua própria cidade, espera que a entrada seja gratuita. Aqui também temos os mesmos custos, as mesmas necessidades de investimento e a mesma paixão pelo esporte.
Torcedores e, principalmente, dirigentes precisam levar o futebol a sério, com profissionalismo. Apoiar o futebol local significa valorizar o esforço de todos os envolvidos, desde os atletas até os funcionários que trabalham para que o espetáculo aconteça. O futebol vive e precisa do apoio irrestrito de seus torcedores, que deve se manifestar, inclusive, na compra do ingresso. É hora de mudar essa mentalidade e construir um futuro mais sólido para o futebol campista.
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