O alívio inicial com o fato do Brasil ter sido atingido por “apenas” 10% de tarifa nas novas medidas comerciais de Donald Trump — valor ainda elevado, mas brando quando comparado ao que foi imposto a outros países — durou pouco.
No fim das contas, o que realmente se impõe é o temor de recessão. E ele fala mais alto do que qualquer nuance diplomática.
Em outras palavras: qualquer otimismo relativo ao Brasil neste momento precisa vir com freio de mão puxado: se o baque sobre os EUA e a China for profundo, os mercados globais inevitavelmente entrarão em ainda mais turbulência.
Nesse cenário, apesar de fechada, a economia do Brasil dificilmente passará incólume. A volatilidade global tende a contagiar todos os ativos. Ainda assim, o ambiente abre espaço para uma diferenciação entre países, e nosso país pode se beneficiar disso.
O mundo parece à beira da maior ruptura comercial desde os anos 1930. E, nesse novo tabuleiro, posições periféricas podem se transformar em ativos estratégicos.
Para o Brasil, os danos potenciais à balança comercial não são triviais, sobretudo se Trump não der margem para negociar exceções ou aliviar as tarifas setoriais mais sensíveis.
Entre os setores mais vulneráveis estão justamente aqueles com maior exposição ao mercado americano: petróleo, café, suco de laranja, papel e celulose, siderurgia e aviação.
Em tese, parte dessas cadeias concorre com a produção doméstica nos EUA — o que agrava o risco. Mas realocar essas cadeias leva tempo, capital e esforço político. Ou seja, não se resolve com discurso inflamado ou canetaço improvisado.
De outro lado, há uma oportunidade real.
As tarifas impostas a países do Sudeste Asiático e a esperada rodada de retaliações abrem espaço para uma reconfiguração de rotas comerciais.
E o Brasil, se conseguir jogar com inteligência, pode se beneficiar nos dois extremos: ocupando espaços deixados pelos asiáticos nas exportações aos EUA e oferecendo substitutos aos asiáticos no lugar de produtos americanos.
Foi exatamente assim que o Brasil se reposicionou durante o primeiro mandato Trump, quando nossas commodities agrícolas encontraram nova demanda global em meio ao vácuo deixado por outros exportadores.
Agora, o roteiro se repete — e é aqui que entra o Itamaraty.
A inclusão do Brasil na lista de tarifas com a alíquota mínima indica que não estamos exatamente no radar de Washington como alvo prioritário.
Estamos numa espécie de “zona cinzenta” da política comercial americana — suficientemente próximos para sermos atingidos, mas não hostilizados.
E isso, por mais contraditório que pareça, pode ser uma vantagem. Cabe ao governo brasileiro reconhecê-lo como tal.
É essencial que essa margem seja explorada com estratégia — e não com a retórica infantil e inconsequente da retaliação automática que, volta e meia, ainda ronda Brasília.
A recém-aprovada lei que autoriza reciprocidade tarifária não deve ser um instrumento de revanche emocional, mas uma peça de barganha madura.
Temos aqui uma janela rara — e, como toda janela, ela se fecha.
Inclusive, o próprio Wall Street Journal já sinalizou que o Brasil pode emergir como um dos beneficiários indiretos dessa reconfiguração de rotas comerciais.
Com a dose certa de habilidade diplomática e pragmatismo comercial, é possível aprofundar laços com mercados estratégicos do Sudeste Asiático e da Europa, ocupando os espaços deixados por fornecedores penalizados pelas tarifas americanas.
Mas é importante manter os pés no chão.
Se essa escalada tarifária sair do controle e empurrar o mundo para uma recessão global séria, não há margem de manobra que nos proteja do impacto. O choque virá — mais cedo ou mais tarde — e será sentido por todos. O momento pede astúcia, sangue-frio e diplomacia profissional.
E, acima de tudo, cautela.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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