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Não existe almoço grátis


  • Olhar Econômico
  • 02 de Abril de 2025 | 08h22
 Imagem: Pixabay/ StockSnap
Imagem: Pixabay/ StockSnap

Você já deve ter ouvido falar que não existe almoço grátis no mercado. Qualquer ativo ou decisão que possa trazer um benefício financeiro terá um custo.

Esses dias recebi um e-mail, escrito pela equipe de um dos maiores bancos do país, trazia a seguinte frase grifada em azul, para parecer um ensinamento importante para os investidores:

Diversificação continua sendo um dos poucos princípios incontestáveis em investimentos — o verdadeiro “almoço grátis” do mercado.

Será que diversificação é realmente um almoço grátis, ou seja, um benefício sem custo algum?

Não me entenda mal, diversificação é sim uma arma importante para qualquer investidor. Ajuda a diluir os riscos e aumenta as chances de você ter na carteira um ativo vencedor, capaz de se multiplicar por várias e várias vezes.

O ponto é que essa estratégia não é gratuita. O tal e-mail defendia a compra de bitcoin para diversificar, o que me parece uma estratégia legal, mas vamos pensar um pouquinho: se você vai tirar dinheiro do bolso para comprar bitcoin, por definição isso já não se enquadra como um almoço grátis.

Veja que isso serve para qualquer ativo: ouro, dólar, bitcoin, ações, obra de arte, que seja… qualquer diversificação representará um custo adicional, e mesmo que traga retornos formidáveis no futuro, não é grátis!

Outro ponto importante é que toda diversificação é uma escolha, e toda escolha envolve renúncias e riscos.

Especificamente em finanças, toda vez que você decide colocar dinheiro em um ativo diferente, indiretamente você está escolhendo não aumentar a posição em um outro ativo que você já possui na carteira.

E se esse ativo que você já tinha subir muito mais do que o que você acabou de comprar, você deixará de ganhar dinheiro por conta da diversificação. Isso não me parece um almoço grátis.

Existe um cenário ainda pior. Pode acontecer de esse novo ativo despencar e fazer você perder muito dinheiro. Isso parece um almoço grátis para você? Nem um pouco.

Ou seja, a diversificação tem sim as suas vantagens, mas está longe de ser uma estratégia infalível no mercado.

Diversificar exageradamente pode se tornar um problema, porque você deixa de investir em ativos que têm mais confiança para, no limite, comprar qualquer porcaria que passar na sua frente.

Existem diversos estudos sobre diversificação e sobre qual seria a quantidade ideal de ativos em um portfólio. Não há uma resposta exata para esse problema, mas a maioria desses estudos apontam que uma diversificação exagerada é prejudicial para o retorno da sua carteira.

Um dos artigos mais famosos sobre o assunto é de Evans e Archer, e é resumido pelo gráfico abaixo.

           https://lh7-rt.googleusercontent.com/docsz/AD_4nXfO_uIDj1tE0uJEtaJD3Z3Y4bU2MbMqvVH_wQz3cLF-luo9sMpB0YWe_GSIF23pckxZdk16Yhpd9-8RFilHtddPg94PAQWYu9mZkZ4jLVEcsqjeJZZEGZ7kUZuK4p1S8V1fBknlL1DiasgVR9Zg9A?key=Cv1PiPNwWhe-xhpOmsy_FOLS

Fonte: Evans, J.L. and Archer, S.H. (1968), DIVERSIFICATION AND THE REDUCTION OF DISPERSION: AN EMPIRICAL ANALYSIS. The Journal of Finance, 23: 761-767.

Segundo eles, a partir de uns 20 ativos, as particularidades de cada ação começam a perder importância para assuntos mais sistêmicos.

Por exemplo, se você tem oitenta ações na carteira, pouco importa se uma delas soltou um excelente resultado e subiu 8%. Com tantos ativos, é bem provável que uma fala do presidente ou uma decisão sobre tarifas nos Estados Unidos tenha muito mais influência na sua carteira do que a melhora dos fundamentos das suas ações.

E nesse caso, seria muito mais fácil e barato ter comprado ETFs do índice (BOVA11 ou BOVX11) do que ter gastado tempo comprando 80 ações diferentes.

Voltando à sugestão de diversificar o seu portfólio com bitcoin, eu também sou à favor dessa estratégia, e inclusive clique aqui e receba de forma gratuita essa lista exclusiva de criptomoedas selecionadas pela equipe do BTG Pactual.

Apenas lembre-se que diversificação não é um almoço grátis, e desconfie toda vez que escutar essa expressão.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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