Temos hoje a primeira Super Quarta de 2025, um evento conhecido no Brasil pela coincidência das reuniões de política monetária entre o Banco Central brasileiro e o Federal Reserve (Fed) nos EUA.
E o dia não poderia chegar em um momento mais tumultuado.
Nos EUA, os investidores ainda processam a forte correção observada na segunda-feira, provocada pelo lançamento de uma nova ferramenta de inteligência artificial pela startup chinesa DeepSeek, uma concorrente direta do ChatGPT. O anúncio sacudiu as ações das principais empresas de tecnologia.
Além disso, a semana está recheada de eventos importantes, incluindo resultados corporativos de grandes empresas e dados cruciais de inflação e atividade econômica nos EUA, que devem moldar as expectativas quanto à trajetória dos juros.
O cenário mais provável aponta para a manutenção das taxas de juros nos EUA. A decisão será observada de perto, pois qualquer sinalização diferente pode redefinir os rumos dos mercados.
A combinação de uma inflação ainda elevada com um crescimento econômico resiliente e condições robustas no mercado de trabalho indica que não há urgência em avançar com novos cortes de juros por lá, mas isso não significa que eles estão fora de questão para 2025.
Encaro a decisão atual mais como uma pausa estratégica para que o Fed avalie melhor os dados futuros e os próximos movimentos do governo.
Desde a posse, o novo presidente dos EUA surpreendeu positivamente ao não adotar uma postura tão agressiva em relação às tarifas — ao menos na prática, ainda que não necessariamente na retórica —, como se temia.
A única exceção foi a ameaça a Colômbia durante o fim de semana, caso o país não mudasse sua posição sobre a recepção de deportados. Não demorou para o governo colombiano ceder.
Na minha visão, os juros devem permanecer estáveis pelo menos até maio, quando o Fed poderá voltar a avaliar cortes. É provável que 2025 veja um ou dois cortes de juros, dependendo do comportamento da atividade econômica e dos próximos passos da administração Trump. Para o mercado, que já precifica essa possibilidade, um ou dois cortes não devem gerar grandes turbulências.
No Brasil, contudo, o cenário é bem distinto.
Em meio a uma Brasília envolta em ruídos e balões de ensaio, continuamos à mercê do ambiente internacional. O câmbio encontrou algum alívio, mas a Bolsa e os juros não tiveram a mesma sorte.
Ambos continuam pressionados pela repercussão da crise gerada pela polêmica do PIX, que deixou o governo desestabilizado, e pelo perigoso flerte com medidas populistas para lidar com a alta dos preços dos alimentos.
A prévia da inflação divulgada na última sexta-feira reforçou a deterioração do cenário. O IPCA-15 registrou uma alta de 0,11% em janeiro, frustrando a expectativa do mercado de uma leve queda de 0,01%. Em 12 meses, o índice oficial está em 4,5%.
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a taxa Selic em 1% e muito possivelmente, já sinalizar novos aumentos, não apenas para a reunião de março, mas também para a de maio. Contudo, é evidente que a política monetária isoladamente não será suficiente para combater a inflação de maneira eficaz.
A responsabilidade recai sobre o governo, que precisa urgentemente assumir um papel mais ativo no ajuste fiscal.
Como destacou recentemente Marcos Mendes em sua coluna na Folha de S. Paulo, o déficit primário de 2024, anunciado como 0,1% do PIB, foi mascarado por uma série de ajustes contábeis, sendo na realidade de 2,1%. Em resumo, o Brasil está gastando muito.
Infelizmente, a disposição do governo para adotar medidas estruturais e fiscalmente responsáveis parece incerta. A recente queda de 5 pontos na aprovação de Lula, agora em 47%, acompanhada de uma desaprovação de 49%, agrava ainda mais o quadro.
A grande preocupação é que, em vez de adotar um caminho de ajustes estruturais, a administração atual opte por medidas populistas, que apenas agravariam a situação fiscal e enfraqueceriam ainda mais a confiança.
Por outro lado, esse ambiente de crescente instabilidade também reforça as perspectivas de uma mudança política em 2026.
O desgaste acelerado do atual governo, combinado com a perda de credibilidade e a incapacidade de oferecer soluções efetivas, abre espaço para um pêndulo político que favoreça um governo mais pró-mercado e comprometido com a responsabilidade fiscal.
Vale lembrar, como abordado no primeiro artigo do ano desta coluna, 2025 pode ser em essência, uma ponte. Ou seja, um ano que será definido tanto pelos erros e acertos do governo quanto pela capacidade da oposição de apresentar uma alternativa sólida e convincente. O cenário está aberto, mas exige atenção de todos os lados.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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