A última semana foi marcada por eventos relevantes, nos EUA e no Brasil, relativos às perspectivas para as taxas de juros. As reuniões dos respectivos bancos centrais irão ocorrer em setembro e uma discrepância sobre as decisões que paira no ar.
Lá fora, as discussões oscilam ao redor da magnitude e velocidade de redução na taxa de juros. Enquanto isso, aqui no Brasil as sinalizações recentes do Banco Central são na direção de possibilidade de alta na taxa Selic, de maneira a convergir a inflação para a meta de 3%.
Nos EUA, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Fomc) trouxe a indicação de que diversos membros já observavam uma melhora na inflação e deterioração no mercado de trabalho por lá, condizentes com o início de um ciclo de cortes de juros.
Assim, em setembro, essa perspectiva se torna ainda mais presente, visto que a inflação divulgada recentemente mostrou nova rodada de dados benignos. No lado do mercado de trabalho, a taxa de desemprego subiu para 4,3%, acima do esperado pelo mercado e pelo próprio Banco Central Americano (Fed).
Finalmente, em discurso na última sexta-feira (23), o presidente Jerome Powell, solidificou essa possibilidade ao afirmar que “a hora chegou”.
Já no Brasil, a taxa Selic encontra-se em 10,5% desde maio, mas as expectativas de inflação permanecem acima da meta e com as projeções do próprio banco central oscilando acima do patamar de 3%.
Com a proximidade de troca da presidência (ao final do ano), surgiram dúvidas sobre os próximos passos da autoridade monetária. A ata da última reunião do nosso Conselho de Política Monetária (Copom) trouxe dois cenários possíveis:
1: manutenção da taxa atual por um longo período, ou
2: uma alta de juros
Diversos membros do Banco Central vieram a público explicar suas visões, indicando que ainda não há uma conclusão sobre a próximo encontro, que será realizado em 18 de setembro, e que dependerá de combinação de resultados das expectativas de inflação com taxa de câmbio.
Meu cenário base, permanece de juros estáveis, mas reconheço que a possibilidade de uma elevação da taxa Selic até o fim do ano aumentou.
Essa discrepância nas perspectivas para a taxa de juros gerará uma reação nos preços de ativos, especialmente na taxa de câmbio.
O diferencial de juros entre Brasil e EUA deverá levar o real a apreciar em relação ao dólar.
Além disso, a bolsa brasileira pode se beneficiar do ciclo de cortes de juros nos EUA, ao atrair fluxos de investimentos estrangeiros, dado que entendo que os preços por aqui continuam baratos, mesmo com o recorde de alta do índice Ibovespa visto recentemente.
Finalmente, a curva de juros também deve reagir, indicando uma redução no risco de inflação mais alta nos próximos anos.
Assim, os investidores deverão permanecer atentos ao noticiário para definir suas alocações, um exercício que deve se tornar mais comum nos próximos meses, à medida que a eleição americana se aproxima e que tem potencial para mexer novamente com os preços de mercado. Mas esse será tema de uma próxima coluna. Até breve!
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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