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Recorde no Ibovespa


  • Olhar Econômico
  • 21 de Agosto de 2024 | 08h19
 Foto: Reprodução/TV Cultura
Foto: Reprodução/TV Cultura

O entusiasmo no mercado de ativos brasileiros é impressionante e confirma minha visão compartilhada anteriormente, de que o segundo semestre teria um comportamento diferente do primeiro. Ontem, o Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, atingiu um novo recorde histórico, encerrando o dia acima dos 136 mil pontos.

Como mostrado por esta coluna, o mercado global passou por um período de pânico no início deste mês, seguido por uma recuperação significativa.

Recapitulando, tamanha histeria foi desencadeada por três fatores principais:

1- A desmontagem das operações conhecidas como carry trade no iene, impulsionada pelo aumento das taxas de juros pelo banco central do Japão.

2- O temor de uma recessão iminente nos Estados Unidos.

3- O desejo dos investidores de realizarem lucros após um primeiro semestre forte lá fora, motivado por valuations já elevados, uma temporada de resultados empresariais que desapontou em parte, e a rotação de ações de crescimento (growth) para ações de valor (value).

No entanto, ao menos dois desses fatores foram recentemente atenuados.

Primeiramente, após a intensa venda de ativos japoneses, declarações mais suaves por parte do Banco do Japão ajudaram a estabilizar os mercados.

Essa abordagem mais cautelosa reduziu a probabilidade de novas desmontagens abruptas de operações de carry trade, como as que vimos anteriormente.

Para esclarecer, a estratégia de carry trade com o iene envolve investidores tomando empréstimos em ienes, a moeda japonesa, a taxas de juros baixas, e convertendo esse capital para moedas de países com taxas de juros mais altas. Esse capital é então investido para lucrar com a diferença entre as taxas de juros.

Por exemplo, como as taxas de juros no Japão são significativamente mais baixas do que nos Estados Unidos, um investidor pode tirar proveito disso ao tomar empréstimos em ienes, converter o valor em dólares americanos e investir em ativos nos EUA que ofereçam retornos mais elevados.

No entanto, essa abordagem não está isenta de riscos. Se o iene se valorizar em relação à moeda para a qual foi convertida, o investidor pode sofrer perdas ao tentar pagar o empréstimo original, como ocorrido em situações recentes.

Sobre o segundo ponto, em relação à possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, os dados mais recentes indicam uma desaceleração no crescimento econômico, mas ainda não apontam para uma forte recessão iminente.

Esse contexto cria uma situação quase ideal para os mercados, na qual o arrefecimento ocorre de forma gradual e controlada, sem grandes surpresas. Quase como um ponto de equilíbrio moderado, raro e favorável para ativos de maior risco.

No Brasil, o cenário internacional de curto prazo, na ausência de uma recessão, é amplamente favorável.

As condições acima, combinadas com avaliações de mercado atrativas e o desinteresse de muitos investidores pelo mercado local, criaram uma janela de oportunidades para os ativos brasileiros.

Nesse contexto, a rotação setorial supracitada, tem potencial para beneficiar o país.

Se os recursos forem redirecionados de setores já valorizados e caros, como os ligados a crescimento e tecnologia, para aqueles que ficaram para trás, com preços baixos e associados a investimentos de valor (value), os ativos brasileiros se alinham perfeitamente a essa tendência.

Além disso, os esforços recentes para reduzir os ruídos fiscais e monetários, por meio de discursos mais ortodoxos foram fundamentais. A manutenção de uma postura conservadora pelo Banco Central é crucial para ancorar as expectativas.

O Brasil continua a apresentar crescimento econômico e as empresas brasileiras estão reportando resultados trimestrais robustos, o que aumenta o interesse dos investidores estrangeiros pelo mercado brasileiro. Esse interesse tende a crescer ainda mais com a possível queda das taxas de juros nos Estados Unidos.

Claro, ainda enfrentamos desafios persistentes, como o risco de uma recessão global, desafios fiscais no Brasil e tensões geopolíticas. O caminho não será fácil.

Correções são esperadas, como a que ocorreu na última sexta-feira. Ainda assim, a perspectiva para o mercado permanece otimista, com potencial para ultrapassar os 140 mil pontos em breve.

Para que isso aconteça, é necessário que as taxas de juros internacionais caiam, que o governo se esforce no controle de gastos e que o Banco Central mantenha sua postura conservadora.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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