O entusiasmo no mercado de ativos brasileiros é impressionante e confirma minha visão compartilhada anteriormente, de que o segundo semestre teria um comportamento diferente do primeiro. Ontem, o Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, atingiu um novo recorde histórico, encerrando o dia acima dos 136 mil pontos.
Como mostrado por esta coluna, o mercado global passou por um período de pânico no início deste mês, seguido por uma recuperação significativa.
Recapitulando, tamanha histeria foi desencadeada por três fatores principais:
1- A desmontagem das operações conhecidas como carry trade no iene, impulsionada pelo aumento das taxas de juros pelo banco central do Japão.
2- O temor de uma recessão iminente nos Estados Unidos.
3- O desejo dos investidores de realizarem lucros após um primeiro semestre forte lá fora, motivado por valuations já elevados, uma temporada de resultados empresariais que desapontou em parte, e a rotação de ações de crescimento (growth) para ações de valor (value).
No entanto, ao menos dois desses fatores foram recentemente atenuados.
Primeiramente, após a intensa venda de ativos japoneses, declarações mais suaves por parte do Banco do Japão ajudaram a estabilizar os mercados.
Essa abordagem mais cautelosa reduziu a probabilidade de novas desmontagens abruptas de operações de carry trade, como as que vimos anteriormente.
Para esclarecer, a estratégia de carry trade com o iene envolve investidores tomando empréstimos em ienes, a moeda japonesa, a taxas de juros baixas, e convertendo esse capital para moedas de países com taxas de juros mais altas. Esse capital é então investido para lucrar com a diferença entre as taxas de juros.
Por exemplo, como as taxas de juros no Japão são significativamente mais baixas do que nos Estados Unidos, um investidor pode tirar proveito disso ao tomar empréstimos em ienes, converter o valor em dólares americanos e investir em ativos nos EUA que ofereçam retornos mais elevados.
No entanto, essa abordagem não está isenta de riscos. Se o iene se valorizar em relação à moeda para a qual foi convertida, o investidor pode sofrer perdas ao tentar pagar o empréstimo original, como ocorrido em situações recentes.
Sobre o segundo ponto, em relação à possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, os dados mais recentes indicam uma desaceleração no crescimento econômico, mas ainda não apontam para uma forte recessão iminente.
Esse contexto cria uma situação quase ideal para os mercados, na qual o arrefecimento ocorre de forma gradual e controlada, sem grandes surpresas. Quase como um ponto de equilíbrio moderado, raro e favorável para ativos de maior risco.
No Brasil, o cenário internacional de curto prazo, na ausência de uma recessão, é amplamente favorável.
As condições acima, combinadas com avaliações de mercado atrativas e o desinteresse de muitos investidores pelo mercado local, criaram uma janela de oportunidades para os ativos brasileiros.
Nesse contexto, a rotação setorial supracitada, tem potencial para beneficiar o país.
Se os recursos forem redirecionados de setores já valorizados e caros, como os ligados a crescimento e tecnologia, para aqueles que ficaram para trás, com preços baixos e associados a investimentos de valor (value), os ativos brasileiros se alinham perfeitamente a essa tendência.
Além disso, os esforços recentes para reduzir os ruídos fiscais e monetários, por meio de discursos mais ortodoxos foram fundamentais. A manutenção de uma postura conservadora pelo Banco Central é crucial para ancorar as expectativas.
O Brasil continua a apresentar crescimento econômico e as empresas brasileiras estão reportando resultados trimestrais robustos, o que aumenta o interesse dos investidores estrangeiros pelo mercado brasileiro. Esse interesse tende a crescer ainda mais com a possível queda das taxas de juros nos Estados Unidos.
Claro, ainda enfrentamos desafios persistentes, como o risco de uma recessão global, desafios fiscais no Brasil e tensões geopolíticas. O caminho não será fácil.
Correções são esperadas, como a que ocorreu na última sexta-feira. Ainda assim, a perspectiva para o mercado permanece otimista, com potencial para ultrapassar os 140 mil pontos em breve.
Para que isso aconteça, é necessário que as taxas de juros internacionais caiam, que o governo se esforce no controle de gastos e que o Banco Central mantenha sua postura conservadora.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
9 | Como usar os juros compostos a seu favor? |
2 | Comprar ou alugar um imóvel? |
25 | Corte de juros nos EUA é benéfico, mas não resolve tudo |
18 | O que esperar de mais uma Super Quarta? |
11 | Depois da farra sempre vem alguma ressaca |
4 | A ilusão da notícia |
28 | Perspectivas para as taxas de juros |
14 | Um novo paradigma a caminho? |
7 | Pânico nos mercados globais. Existe razão para tamanha histeria? |
31 | Agronegócio é alternativa para investidores |
24 | Economia brasileira com crescimento sustentável ou voo de galinha? |
10 | Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos |
3 | Segunda metade do ano |
26 | Bolsa tem boas oportunidades para os pacientes |
19 | Conservadorismo necessário |
12 | Juros e inflação nos EUA definirão rumo dos mercados no curto prazo |
5 | Nosso dilema do prisioneiro |
29 | Como a desancoragem das expectativas atrapalha a queda dos juros no Brasil |
22 | Debêntures incentivadas em evidência |
15 | Bolsa barata basta? |
8 | Conservadorismo e cautela |
1 | O mal não falado |
27 | Não chegue no fim da festa |
20 | Super Quarta quente |
13 | Reserva de valor: até onde vão o ouro e o bitcoin? |
6 | Petrobras e seu recorde de valor de mercado |
28 | Petróleo: a principal commodity |
21 | Investimentos inteligentes: planeje sua viagem dos sonhos |
7 | Como vencer o medo de investir? |
31 | Aquela velha roupa vermelha |
24 | 2024 é ano de eleições. A mais importante não será no Brasil |
17 | Commodities em baixa |
10 | Ressaca pós-virada? |
20 | Dicas para controlar os gastos de fim de ano |
13 | Última Super Quarta do ano |
6 | Lições valiosas de Charlie Munger |
26 | Comprar imóvel ou investir em fundos imobiliários? |
19 | Em busca de um porto seguro |
12 | Mais pra cá do que pra lá |
5 | Como investir com foco no longo prazo no Brasil? |
15 | Como saber se uma ação está cara ou barata? |
8 | Investir é um teste de resiliência |
1 | Semana dos Bancos Centrais |
21 | Renda fixa segue como “queridinha” em 2023 |
14 | Menino ou adulto Haddad? |
7 | Fuja dos golpes: não se deixe levar por promessas de dinheiro fácil |
26 | Benefícios do planejamento sucessório: conheça mais! |
19 | Quais os riscos de investir em FIIs? |
13 | Viver de renda? Confira o passo-a-passo para chegar lá! |
31 | Contra o consenso |
24 | BTG lança plataforma cripto |
17 | Preparado para as propagandas eleitorais? |
10 | Um pouco de previsibilidade |
3 | Preparados para o mês de agosto? |
27 | A proteção ficou mais cara, mas continua essencial |
20 | Fundos imobiliários X Imóveis |
13 | Renda fixa continua atraente. Mas e a bolsa? |
6 | Cenário macro para 2º semestre |
25 | Uma boa notícia para os fundos imobiliários |
18 | O médico e o monstro |
11 | O fim da era do dinheiro de graça |
4 | A maré baixa mostrará quem está nadando pelado |
27 | Todos os caminhos levam à inflação |
20 | O alerta vem da China, "de novo" |
13 | Insurtechs? Esse seguro está diferente |
6 | Consórcio é mais vantajoso que outras aplicações financeiras? |
30 | Irmãos a obra: análise de balanços |
23 | Com qual frequência você muda de opinião? |
15 | A Super-Quarta |
9 | Mulheres: com toda crise, uma oportunidade |
2 | Investindo em tempos de guerra |
23 | A sorte está lançada |
16 | Value investing is back |
9 | Mudanças e algumas tensões no ar |
2 | A política monetária brasileira sob os holofotes |
26 | NF Notícias estreia coluna de economia com Paulo Nascimento Filho |
Seja o Primeiro a Comentar
Comentar