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Segunda metade do ano


  • Olhar Econômico
  • 03 de Julho de 2024 | 08h28
 Reprodução/ Mac magazine
Reprodução/ Mac magazine

O primeiro semestre de 2024 foi frustrante para os investidores em bolsa. O ano começou com projeções de Ibovespa aos 145 mil pontos e dólar a R$ 4,80 na passagem para 2025.

O segundo semestre começa com a bolsa brasileira em queda acumulada de 7,66% no ano, próximo dos 124 mil pontos, e o dólar em alta, flertando com os R$ 5,70.

Nos primeiros seis meses do ano, a manutenção de juros altos por mais tempo do que se esperava nos EUA impediu o Copom de continuar cortando os juros e lançou luz sobre os riscos fiscais e a trajetória da dívida brasileira.

Essa situação pesou sobre os ativos locais e frustrou as expectativas de curto prazo dos investidores. Mas, se tanta coisa mudou em apenas seis meses, por que elas não poderiam mudar novamente até a virada para 2025? Bem, não é tão simples assim.

A turbulência se intensificará ao longo da segunda metade do ano, quando as discussões sobre a meta fiscal e o Orçamento de 2025 devem chegar às alturas.

O aumento da ansiedade quanto a questões macroeconômicas deve continuar a fazer peso sobre os ativos de risco.

No entanto, mesmo com todo o barulho ao redor, vejo espaço para a recuperação da bolsa e o recuo do dólar ainda este ano — embora não na medida imaginada no início do ano.

Essa dinâmica está condicionada principalmente a um corte de juros pelo Fed. O problema é que ainda não há certeza em relação a quando isso vai acontecer.

Outra questão muito importante é o ruído interno. As falas do presidente Lula têm atrapalhado muito. O argumento de que o presidente do Banco Central (BC) boicota o governo ou qualquer coisa parecida pode servir a rompantes populistas histriônicos, mas prescinde de sustentação factual.

Quando, de maneira unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) vota pela manutenção da taxa Selic, incluindo nesse consenso as opiniões dos diretores recém-indicados por Lula, fica claro não haver qualquer posicionamento político do colegiado do BC para definir o patamar atual da taxa básica de juros.

Ao afirmar que existe um ataque especulativo contra o real brasileiro, Lula aponta para si mesmo. Perceba que a cada fala de ataque a presidência do BC e sua autonomia, o dólar dá um salto.

Ocorre que dólar mais caro, não afeta somente quem vai para Disney. Grande parte do que o Brasil produz é importado. Com o dólar nesse preço por muito tempo, tudo ficará mais caro de se importar.

Posso trazer como exemplo, o trigo do pão francês que é importado. Assim como arroz, feijão e demais alimentos do prato típico do brasileiro, que também tem sua parte importada. Combustíveis, bens essenciais e não essenciais – muita coisa é importada e quanto mais caro o dólar, mais caro fica importar tudo isso. E os preços acabam sendo repassados ao consumidor. Nisso, inflação sobe.

O presidente Lula adota a linguagem mais clássica do populismo, afirmando que o mercado é o inimigo do povo. Trata-se do famoso jogo “Nós X Eles”.

Em outras palavras, Lula sugere que o BC seria o dragão da maldade e ele, o santo guerreiro. Sem entrar no mérito, sendo este o entendimento, o executivo pode perfeitamente enviar uma proposta ao congresso para acabar com a autonomia do BC. Seria uma solução democrática. Por que não o faz?

Além de não adotar a solução democrática, Lula passa o tempo todo atacando essa autonomia. Desta forma, acaba soando como tentativa de interferência política no BC, fazendo com que as expectativas de inflação subam e os juros futuros fiquem mais altos, elevando o custo para o Brasil se financiar.

É urgente que o Governo resolva sua rixa com o mercado ou a inflação será uma consequência real, o que prejudicará justamente os mais pobres.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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