Algumas coisas simplesmente não mudam. No mercado financeiro, toda virada de ano vem acompanhada daquelas tais previsões que todo mundo procura ler.
Alguns apenas por curiosidade, outros porque gostam de segui-las e há também os que usam as dicas para apostar contra elas.
O fato é que 2024 começa com perspectivas não muito animadoras para as commodities, de maneira geral.
O gráfico a seguir mostra um desempenho combinado de várias commodities (petróleo, gás, minério, soja etc).
Em partes, esse desempenho é explicado pela sobreoferta de petróleo, queda nas perspectivas de crescimento da China (o que impacta o consumo de aço), além da queda na cotação de vários produtos agrícolas depois do boom da pandemia.
Esse momento ruim das commodities fez muitas casas de análise sugerirem uma "rotação de portfólio": saem empresas de commodities, entram empresas cíclicas domésticas, que têm mais potencial para surfar a queda da Selic.
Mas será que seguir essa sugestão à risca vale a pena?
Antes de responder, é importante entender que investir em empresas de commodity não é a mesma coisa que investir em commodity.
Trago o exemplo da Petrobras (PETR4). Desde março de 2022, as ações da Petrobras sobem 139%, enquanto o petróleo cai -29%.
Esse movimento aparentemente contraditório é parte explicado pela melhora da percepção política sobre a companhia, mas não é só isso.
A Petrobras tem um dos custos de produção mais baixos do mercado. Obviamente, um petróleo cotado a US$ 70/barril rende menos dinheiro do que em US$ 100.
Mas para uma companhia que tem um breakeven de menos de US$ 50/barril – ou seja, que gera caixa com o petróleo acima desse patamar –, o preço atual ainda é interessante.
Ainda existem os riscos políticos, mas mesmo com o petróleo nos menores patamares dos últimos dois anos, 2024 ainda pode ser um ano de bons resultados para a estatal. Inclusive a empresa permanece na carteira recomendada do BTG para este mês de janeiro.
E assim como a queda no preço das commodities nem sempre se reflete no preço das ações do setor, o oposto também é muito comum.
Muitas vezes, investidores compram ações de uma determinada empresa só porque o preço da commodity que ela produz está subindo, sem se atentar se existem outros problemas intrínsecos que podem fazer ela deixar de surfar a maré alta.
Ao longo das últimas décadas, foram vários os investidores que perderam dinheiro em petroleiras que poderiam aproveitar a alta da commodity, mas que acabaram enfrentando diversos problemas de produção que afetaram os resultados e o preço das ações.
Com esses exemplos, gostaria que você entendesse que nem sempre empresas de commodities são a melhor forma de apostar na alta ou queda desses produtos.
Por esse motivo, ao contrário do que você deve ter lido por aí nos últimos dias, a minha dica não é fugir das empresas de commodities em 2024, mesmo que as cotações do petróleo, do minério de ferro etc não tenham as melhores perspectivas para o ano.
Sim, se a taxa de juros continuar caindo e a inflação seguir controlada, as empresas cíclicas domésticas (principalmente varejo e construtoras) devem se beneficiar mais.
No entanto, existem algumas empresas de commodities capazes de trazer diversificação, dividendos e que já estão baratas neste momento por causa desse mantra de "fim das commodities em 2024", que oferecem um risco x retorno atrativo.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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