No feriado do bicentenário de nossa Independência, a bolsa brasileira parece ter declarado seu próprio “grito do Ipiranga” (ou da Faria Lima). Afinal, a alta acumulada pelas ações na B3 nas últimas semanas aconteceu enquanto o restante dos países lidavam com uma verdadeira tempestade econômica.
No 7 de setembro, que fecha os mercados por aqui (mais se fala de política do que da importância da data para a nação em si, mas seguimos). Naturalmente, em véspera de feriado, um movimento de realização demonstrando cautela foi verificado, até mesmo porque existe um temor de eventuais atos políticos turbulentos no país.
Estamos a três semanas do primeiro turno das eleições, em meio a uma janela semanal com 8 pesquisas sendo apresentadas. Sem grandes mudanças, os candidatos devem buscar mobilizar suas respectivas bases hoje para ganhar alguma tração na reta final.
Francamente? Mais me interessa a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, relembrando a chance de elevarmos em ainda 25 pontos-base a Selic no Comitê de Política Monetária (Copom), que divulgará sua decisão no dia 21 de setembro. Não vai ser o fato da taxa repousar em 13,75% ou em 14% que importa, mas, sim, o fato da inflação estar ou não próxima de ser controlada.
O universo dos investimentos é cheio de clichês, e talvez o mais comum deles seja a personificação do mercado financeiro — com sentimentos, desejos e humores. Não à toa, freqüentemente as máximas da vida humana encontram reflexos nos gráficos da bolsa de valores.
Na psicologia, algumas frentes costumam acreditar que a depressão pode nascer da perda de uma ilusão. No mercado, é assim que surgem os fortes movimentos de queda e ontem tivemos um bom exemplo disso. Ao contrário do que os investidores vinham precificando desde a última reunião do Copom, o BC parece ainda não estar pronto para interromper o ciclo de aperto monetário ou começar a vislumbrar um corte nos juros.
A declaração do presidente do BC Roberto Campos Neto, e os números mistos que indicam incertezas também no caminho norte-americano, desfazem a ilusão do mercado de que o futuro é menos nebuloso.
Nos Estados Unidos, novos dados da economia local foram recebidos em clima de derrota. Os índices de gerentes de compras de serviços e composto (PMI, na sigla em inglês) indicaram uma fraqueza da atividade. Somando ao quadro, enquanto as bolsas norte-americanas estiveram fechadas na segunda por conta do Labor Day, do outro lado do Atlântico a Europa tremia com a decisão da Rússia de cortar o fornecimento de gás para o continente.
Dito e feito. Ontem em Nova York, as bolsas americanas amargaram quedas. Na B3, o Ibovespa encerrou a sessão em baixa de 2,17%, aos 109.763 pontos, repercutindo não só a disparada dos juros futuros como também a precaução com o cenário político. O dólar subiu 1,63%, a R$ 5,2381.
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