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Mudança estrutural nos mercados internacionais? Ibovespa bate S&P500 em abril


  • Olhar Econômico
  • 07 de Maio de 2025 | 08h14
 Foto: Repropdução/B3 - Ilustrativa
Foto: Repropdução/B3 - Ilustrativa

Abril começou horroroso para o Ibovespa. Logo no dia 2, o tal Dia da Libertação, Donald Trump anunciou tarifas muito acima de qualquer expectativa, jogando todas as bolsas mundiais no vermelho.

Como tudo que está ruim pode piorar, a China impôs retaliações e recebeu ainda mais tarifas dos EUA como resposta, o que obviamente não é bom para nenhuma das duas maiores economias do mundo.

Como resultado, S&P 500 e Nasdaq caíram mais de 10% em poucos dias, e não foi muito diferente de outras bolsas ao redor do mundo.

Com tarifas elevadas e o consequente impacto na atividade, commodities também desabaram e as apostas de recessão nos Estados Unidos ganharam os debates econômicos.

Agora, já no fim de abril, mesmo com todos esses contratempos, o mês terminou com ótimo desempenho para os ativos brasileiros.

Para nós investidores, isso pode ser mais do que apenas uma força do acaso. Na verdade, o desempenho do Ibovespa em abril pode ser um indício de que estamos diante de uma mudança estrutural nos mercados internacionais, com implicações bastante positivas para os ativos brasileiros.

Para entender essa possível mudança, precisamos voltar um pouco no tempo. Desde meados da década passada, as empresas de tecnologia dos EUA foram responsáveis por sugar uma quantidade gigantesca de recursos do resto do mundo, especialmente de países emergentes e da Europa.

https://lh7-rt.googleusercontent.com/docsz/AD_4nXe143kXZJgMoWyUWPTxciOI2B0apmBPLICf4E8BQZ38n5tGpP4GmXzx15Lsfm4GaqWbkDWa2v9EflDNMqr3J3N3ofn0clfp5UJdH4is8_X-z2Sj75Vqk3MoK2QucwF_03dXoc6GVPQx9_Tj2SI5fF4?key=jl46hSlg0GP39zylYGWI_Qca

Fonte: Bloomberg.

O raciocínio era relativamente simples: “por que se arriscar em mercados pouco sofisticados (emergentes) ou em regiões quase estagnadas (Europa) se você pode investir em empresas de tecnologia norte-americanas que não param de crescer?”

Essa linha de raciocínio ganhou ainda mais apelo com o surgimento das teses de inteligência artificial...

Mas dois eventos colocaram essa tese em cheque desde o início do ano. O primeiro foi o surgimento do DeepSeek em janeiro, que desafiou a supremacia das empresas de tecnologia norte-americanas, consideradas praticamente imbatíveis até então.

O segundo evento foi justamente o tarifaço, que coloca em risco os ganhos de eficiência e até mesmo o crescimento não apenas das 7 Magníficas (grupo das maiores empresas de tecnologia dos EUA), como de muitas empresas norte-americanas, além de colocar em dúvida outros aspectos fundamentais, como o próprio status de reserva de valor do dólar e dos Treasuries (títulos do tesouro dos EUA).

Se a preferência pelas big techs era óbvia até pouco tempo atrás, agora o sentimento mudou. E quem pode se aproveitar são justamente os mercados que perderam recursos para os EUA nos últimos anos.

O Brasil pode ser justamente um desses beneficiados, e o desempenho em abril indica que, pelos menos por enquanto, estamos conseguindo aproveitar desse fluxo de saída  de capital dos EUA.

https://lh7-rt.googleusercontent.com/docsz/AD_4nXfGyg0t-S2kKFA-IKcIyLrUEWM6xC_C9EKRwdViX4e7RXKo1p6tqweK7lrpDRhKVgrkBahbbC0wdEze43vGCDmmC0Vb0DQV21Xrl_1hXwKq74c7BGFcGZzkzP9wogMEB7E8OMAyUIWfoqK9oquOEg?key=jl46hSlg0GP39zylYGWI_Qca

Fonte: Bloomberg.

E esse movimento ainda tem espaço para continuar. Primeiro porque ainda existe muito dinheiro investido nos EUA, que tem começado a mostrar cada vez mais sinais de desaceleração.

Segundo porque, mesmo depois do bom desempenho até aqui em 2025, o Ibovespa segue negociando por múltiplos descontados (8x preço/lucros), e em breve podemos ver o investidor começar a precificar as chances de eleição de um candidato pró-mercado e reformas em 2026.

Além disso, recentes declarações de membros do Banco Central do Brasil combinadas com sinais de desaceleração da inflação começam a abrir a possibilidade de cortes da Selic ainda em 2025, o que seria ótima notícia para os ativos brasileiros.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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