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Animados para 2025?


  • Olhar Econômico
  • 08 de Janeiro de 2025 | 07h23
 Foto: Reprodução
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Parece existir um pessimismo generalizado para 2025 no Brasil, não é verdade?

De fato, existem motivos para uma visão mais negativa. Aliás, ilude-se quem pensa que momentos de pessimismo ou mesmo otimismo exagerados decorram da ausência de justificativas fundamentadas.

A boa depressão ou euforias precisam estar assentadas sobre uma narrativa crível, que somente a posteriori podem se mostrar erradas.

Meu entendimento seria de que sem mudanças de rumo, provável caminharmos para uma Selic acima de 15% e inflação de 6%. Neste cenário, consumo e investimentos ficam travados, o que geraria um segundo semestre difícil.

Curiosamente, a Faria Lima pode encontrar a 25 de março.

Veja, apesar das narrativas e frequentes ataques, entendo que o mercado financeiro apenas manifesta por meio dos preços a informação da interação de milhares de compradores e vendedores cujas expectativas se manifestam numa transação.

Analistas de mercado costumam encontrar o benefício de enxergar com mais perspectiva o futuro, justamente por passarem boa parte de seus dias fazendo conta. A economia real, o emprego e a massa salarial geralmente são os últimos a sentir.

Sem mudanças, a sensação de mal-estar no dia a dia da população poderá ser mais intensa ao longo deste ano. Não desmereço esses elementos. Meu ponto, por outro lado, é que os mercados carregam uma habilidade especial em surpreender os consensos.

Se a construção acima é correta, de que os mercados enxergam as crises antecipadamente, ao menos parte relevante dela já estaria nos preços.

Ora, se todos acham que as coisas vão piorar antes de melhorar, ninguém espera a deterioração passivamente. As pessoas vendem antes. E os ativos financeiros pioram também antecipadamente.

A verdade é que ninguém quer saber da renda variável. Fundos de pensão carregam sua menor posição da história recente em Bolsa. As pessoas físicas não querem nada além de devorar a sopa de letrinhas da renda fixa como LCIs, LCAs, CDBs e os títulos do Tesouro Direto.

Se isso não foi suficiente para demonstrar o clima negativo, destaco uma aberração brasileira.

Existe muita critica a condução da política fiscal e a explosão da trajetória da dívida pública. Porém, esses mesmos críticos vendem suas ações para comprar a dívida pública!

É um raciocínio no mínimo peculiar: dado que o governo flerta com níveis perigosos de dívida, vou emprestar mais dinheiro para o governo!

Havendo chances de incorrermos num “calote branco” (países com dívida em moeda local não dão calote financeiro – no limite simplesmente imprimem dinheiro para pagar suas dívidas e o calote vem por meio da inflação), seria preferível correr dos títulos do tesouro e estar em ativos reais como os imóveis por exemplo. Freud explica?

Você já deve ter ouvido falar que a bolsa brasileira está barata e trata-se de uma afirmativa verdadeira. Com isso não quero dizer que ela não possa ficar ainda mais barata, nem tampouco que se valorize na próxima semana.

Sejamos sinceros: o Brasil tem uma capacidade exemplar de surpreender negativamente. É um trabalho de profissionais!

Dito isso, adoto o pragmatismo para 2025: mantenho uma posição de caixa (pós-fixados), exposição ao dólar, em ouro e um pezinho nas criptomoedas.

Ao mesmo tempo, permito-me estender meu horizonte temporal até o final de 2026 e mantenho posições estratégicas em ativos de risco brasileiros. Porém, evito alocações em empresas altamente endividadas.

Meu otimismo para 2025 está centrado em uma verdade fundamental: este ano é uma ponte para 2026. Em algum momento, os investidores começarão a ajustar suas perspectivas, percebendo a proximidade de um possível ponto de inflexão no ciclo eleitoral. Essa antecipação, por si só, pode ser transformadora.

A expectativa de mudança política não surge isolada.

Em 2024, observamos um padrão consistente de alternância de poder em diversos países, refletindo uma crescente insatisfação com governos irresponsáveis com a economia.

O caso mais recente é o do Canadá, onde Justin Trudeau renunciou ao cargo de primeiro-ministro, encerrando mais de nove anos no poder. Trudeau, que no início de seu mandato colhia os frutos de uma gestão popular, deixa o cargo desgastado por crises econômicas e perda de apoio político.

Sua saída abre caminho para o retorno dos Conservadores, que prometem implementar reformas. Há uma possibilidade de que as eleições, originalmente previstas para o final de 2025, sejam antecipadas.

Se confirmada, essa transição reforçará a tendência global de deslocamento político em direção a líderes pró-mercado e alinhados com reformas estruturais.

O Canadá é apenas um exemplo de um fenômeno mais amplo. Países como Chile, Alemanha e Austrália também demonstram sinais de mudança política, com expectativas de lideranças mais voltadas ao mercado.

Ainda na América Latina, a Argentina realizará eleições de meio de mandato que servirão como termômetro para as reformas conduzidas pelo presidente Javier Milei.

Esse movimento de pêndulo político global pode ser um prenúncio do que ocorrerá no Brasil em 2026. Uma rejeição aos governos irresponsáveis, frequentemente agravada por dificuldades econômicas, tende a estimular realinhamentos políticos e econômicos.

Adotar uma perspectiva de longo prazo em 2025 parece-me uma estratégia sensata. Mesmo que o ano talvez não entregue resultados concretos e positivos de imediato, ele poderá desempenhar um papel crucial como alicerce para um ciclo prolongado de crescimento sustentado e finalmente abandonarmos nossos conhecidos voos de galinha. A ver.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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