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Os juros subirão ainda mais?


  • Olhar Econômico
  • 11 de Dezembro de 2024 | 08h13
 Foto: Reprodução/Governo Federal
Foto: Reprodução/Governo Federal

O mercado financeiro parece manter uma certa cautela, refletindo a falta de avanços na agenda fiscal. A proposta do governo para conter o crescimento dos gastos públicos, que abordei na última semana, enfrenta alguma resistência no Congresso, contribuindo para um cenário de incertezas.

A dimensão do problema fiscal é inegável: atualmente, o país direciona 38% de seu Produto Interno Bruto (PIB) a gastos correntes, enquanto a arrecadação atinge 36,5% do PIB, resultando em um déficit estrutural de 1,5%.

Quando adicionamos uma relação dívida/PIB próxima de 80% e juros reais ao redor de 7%, o custo anual do serviço da dívida chega a aproximadamente R$ 1 trilhão, elevando o total de despesas para impressionantes R$ 6 trilhões.

Diante disso, a economia prometida de R$ 30 bilhões para 2025 representa um esforço insuficiente para equilibrar as contas públicas.

O pessimismo permanece evidente desde o anúncio do Ministro Fernando Haddad, sem qualquer sinal de alívio no clima entre investidores.

Ontem a divulgação do IPCA de novembro trouxe um impacto limitado sobre as decisões do Banco Central, já que o mercado considera praticamente certa uma alta de pelo menos 0,75% na Selic.

Justamente por isso, hoje o foco se desloca para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ocorre que o Boletim Focus desta semana destacou uma deterioração adicional nas projeções: a Selic esperada para 2025 subiu para 13,5%.

A lição é clara: quando a âncora fiscal falha, a responsabilidade recai integralmente sobre a política monetária, que precisa operar em intensidade maior.

No mercado, a inflação implícita na curva de juros para dois anos ultrapassou 7%, um patamar alarmante que reflete uma deterioração significativa das expectativas.

Esse contexto de juros reais elevados contrasta com avanços estruturais cruciais conquistados nos últimos anos, como o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a consolidação da autonomia do Banco Central.

Os impactos nos mercados são evidentes.

O Ibovespa caiu para 125 mil pontos, negociado a um múltiplo reduzido de 7 vezes os lucros.

O dólar, por sua vez, superou a marca de R$ 6,00, em sua maior cotação histórica.

Simultaneamente, a curva de juros precifica uma Selic terminal de 15,75%, com os juros reais retornando a níveis do pior momento da era Dilma.

Esse contexto é agravado por uma conjuntura global desafiadora. Isso porque os Bancos Centrais de quatro continentes estão promovendo ajustes simultâneos em suas políticas monetárias nos próximos dias, buscando conter pressões inflacionárias e estabilizar seus respectivos mercados — o novo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos adiciona uma camada adicional de incerteza ao mundo.

Até o fim do ano, nove dos dez maiores bancos centrais do mundo ainda irão determinar suas diretrizes monetárias, mantendo os mercados atentos.

Especificamente, estima-se que o Banco Central Europeu (BCE) deve realizar um corte de ao menos 0,25% na taxa de juros nesta semana, enquanto o Federal Reserve (Fed) nos EUA parece inclinado a seguir o mesmo caminho na próxima semana.

No que diz respeito aos ativos brasileiros, a confiança na política econômica do país está praticamente inexistente, agravada pela ausência de catalisadores de curto prazo que poderiam estimular o mercado.

Para os investidores capazes de aproveitar esse desalinhamento entre preço e valor, há uma oportunidade. Entendo que se a política econômica não for corrigida, o cenário aponta para uma mudança de poder na próxima eleição presidencial, o que pode inaugurar um superciclo econômico antes mesmo de 2027.

Entretanto, o caminho até lá será marcado por turbulências.

A política monetária terá de ser mais restritiva para conter os desequilíbrios atuais, o que significa juros mais altos por um período prolongado.

O desafio, portanto, será equilibrar a exposição aos ativos locais com a gestão dos riscos inerentes a essa trajetória incerta, mas potencialmente recompensadora no longo prazo. Sempre importante contar com assessoria especializada nestes momentos.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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