Em um país no qual o endividamento da população é alto, os juros compostos são um dos piores pesadelos dos brasileiros.
Também conhecidos como juros sobre juros, são calculados tanto sobre o valor inicial de um empréstimo ou financiamento quanto sobre os juros já acumulados. Com isso, o total devido aumenta exponencialmente ao longo do tempo e a dívida fica muito mais cara.
Mas aquele que é um grande inimigo das finanças também pode se tornar um dos principais aliados na construção do patrimônio com uma troca de papéis.
Isso porque, assim como um cliente pega um empréstimo em um banco, qualquer brasileiro também pode emprestar o seu dinheiro para uma instituição financeira em troca de juros.
Ou seja, enquanto quem contrai dívidas precisa pagar juros compostos, quem investe passa a recebê-los, fazendo com que eles trabalhem a seu favor.
Para exemplificar o poder dos juros compostos, simulei o que aconteceria se um investidor deixasse R$ 100 mil parados na conta — ou debaixo do colchão — ou utilizasse o dinheiro para uma aplicação de baixo risco que rendesse 0,7% ao mês.
Esse percentual de retorno condiz com o rendimento líquido esperado para o cenário atual dos juros brasileiro — vale lembrar que o Banco Central elevou a taxa Selic para 10,75% no último mês.
Em apenas um ano (e sem qualquer aporte adicional), a aplicação renderia pouco mais de R$ 8.700. Não é um valor muito impressionante, mas em dois anos, o valor referente aos juros sobe para R$ 18 mil. Ou seja, de R$ 100 mil, o investidor passaria a ter R$ 118 mil.
Quem tivesse disciplina e deixasse a aplicação render ao longo de 30 anos se tornaria oficialmente milionário apenas com os juros compostos, que transformariam o investimento inicial de R$ 100 mil em mais de R$ 1,2 milhão nesse período.
O interessante é que, para quem não tem uma quantia alta para investir agora, os juros compostos também são eficazes quando se trata de pequenos valores aplicados ao longo do tempo.
Aliás, muitas vezes a constância é mais importante para a acumulação de patrimônio do que a busca por um investimento de alta rentabilidade.
Provando que, de grão em grão, a galinha enche o cofre, fiz uma simulação com aportes mensais de R$ 1.000 — sem a necessidade de fazer um grande aporte inicial — para mostrar que também é possível chegar à casa do milhão.
No curto prazo, a simulação não enche os olhos é verdade. Considerando-se a mesma aplicação de baixo risco com uma taxa de juros mensal de 0,7%, as aplicações de R$ 1.000 por mês renderiam, após um ano, apenas R$ 472,92.
Após dois anos, porém, o valor referente aos juros já sobe para pouco mais de R$ 2 mil, totalizando um montante da ordem de R$ 26 mil.
Mostrando que o crescimento também é exponencial nesse cenário, o valor acumulado com juros chegaria a R$ 74 mil em cinco anos e superaria os R$ 187 mil em 10 anos.
O tão sonhado milhão chegaria após 25 anos — sendo apenas R$ 300 mil referentes aos aportes mensais, enquanto os outros R$ 715 mil correspondem aos juros compostos acumulados.
Já se deixado “debaixo do colchão”, esse dinheiro iria se transformar em apenas R$ 360 mil no mesmo período, o equivalente à poupança de R$ 1.000 por mês durante 360 meses (30 anos), sem qualquer taxa de juros ou correção.
Apresento isso no gráfico abaixo, onde você pode ver o ritmo do crescimento do montante apenas com os valores aportados (vermelho) em comparação ao ritmo de crescimento do montante com os valores dos aportes mais os juros sobre juros:
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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