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O que esperar de mais uma Super Quarta?


  • Olhar Econômico
  • 18 de Setembro de 2024 | 08h43
 Foto: Reprodução
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Nesta semana o foco global está voltado para reunião do Federal Reserve (Fed). A expectativa é que o comitê de política monetária dos EUA realize o primeiro corte nas taxas de juros desde 2020, dando início a um ciclo de flexibilização após um longo período de políticas monetárias restritivas, as mais severas em décadas.

No Brasil, o cenário ganha ainda mais relevância com a "Super Quarta", que trará tanto a decisão do Fed quanto a do Comitê de Política Monetária do Brasil (Copom).

Semana passada, o boletim Focus - que andava dormente em relação à Selic - trouxe um salto repentino de 10,50% para 11,25% ao final de 2024. Na média, três reuniões do Copom entre setembro e dezembro, três potenciais altas de 0,25%.

Logo depois, o IPCA de agosto acusou -0,02%, recuando para 4,24% no acumulado de 12 meses.

Brasil não é para amadores... ou seria o contrário?

Talvez estejamos em um dos raros mercados do mundo em que o diferencial dos tubarões sobre os sardinhas se mostra quase desprezível face a tantos passeios aleatórios.

Fato é que, tudo o mais constante, essa ligeira deflação do IPCA deixou parte dos analistas de mercado com mais dúvidas do que certezas.

Por um lado, ela não foi forte o suficiente para cravar uma tendência convincente de desinflação no Brasil.

Por outro, pode fazer o Copom "dependente de dados" pensar duas vezes antes de elevar a Selic hoje.

Essas situações limítrofes a partir de indicadores específicos não são fruto de mera coincidência; elas derivam naturalmente do paradoxo atual em que se encontra o Banco Central brasileiro (BC).

Se ele apertar a Selic a priori, talvez a função reação lhe mostre a posteriori que ele não precisava ter apertado a Selic.

Já se ele não apertar a Selic a priori, provavelmente a função reação lhe mostrará a posteriori que ele precisava ter apertado a Selic.

Sim, eu sei que parece uma situação estranha, contraditória em si mesma. 

A questão é que o Brasil tem adotado medidas fiscais que se distanciam das diretrizes tradicionais do arcabouço oficial.

Exemplos notáveis incluem a flexibilização na contabilização de precatórios, a exclusão de despesas relacionadas à recuperação fiscal do Rio Grande do Sul e a inclusão de receitas de origem duvidosa nas contas públicas.

Essas práticas trazem à tona memórias da chamada "contabilidade criativa", já utilizada em governos petistas no passado.

Como resultado, o mercado tem demonstrado ceticismo quanto às projeções de superávit fiscal, especialmente diante das recorrentes exceções adotadas.

Essa desconfiança tem impactado diretamente a curva de juros, uma vez que a incerteza fiscal alimenta a necessidade de manutenção de taxas de juros mais elevadas.

Nos EUA, por outro lado, observou-se um aumento nas expectativas de redução das taxas de juros nesta quarta-feira. Será fundamental acompanhar de perto a coletiva de imprensa de Jerome Powell, presidente do Fed, que deve trazer informações relevantes sobre os próximos passos da política monetária por lá.

O mercado está atento não apenas ao primeiro corte, mas, sobretudo, à trajetória que será adotada posteriormente, pois o ritmo e a profundidade dessas reduções nas próximas reuniões serão decisivos para moldar o cenário econômico nos próximos meses.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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