Ray Dalio, criador do fundo mais lucrativo do mundo, talvez seja o maior propagador da ideia de mudanças de paradigma entre os financistas.
Ele costuma descrever sua “Nova Ordem Mundial”, em que alerta para ascensões e quedas de impérios ao longo da História, e também para identificar tendências quase seculares entre os ativos financeiros e os mercados de capitais — a cada dez anos aproximadamente, mudam-se os líderes dos rankings das grandes multiplicações e aquilo que funcionou na década anterior deixa de ser adequado para o momento subsequente.
Busco evitar superlativos e certa inclinação a exageros. O Brasil da mediocridade poda adjetivações excitadas.
Desconfio, porém, estarmos penetrando um novo paradigma para os investimentos. Aquilo que funcionou imediatamente ao pós-pandemia pode subitamente cair em desuso.
Já as coisas largadas e desprezadas há três anos emergem como candidatas a estrela em uma nova ordem ditada por juros internacionais menores e pela percepção de que a concentração nas big techs norte-americanas pode estar ultrapassada.
Um resumo desse argumento: parece provável que o Federal Reserve (Fed) vá mesmo cortar a taxa básica de juro nos EUA, e isso deve levar a um enfraquecimento do dólar frente às principais moedas.
Neste cenário, conforme o dólar se enfraquece, o bastão será passado para outras economias para guiar o crescimento global e para outros mercados para liderar um novo bull market nas ações.
Como no estouro da bolha pontocom entre 2000 e 2001, o fim do bull market nas bolsas norte-americanas e a potencial desaceleração do crescimento do PIB dos EUA não significaram necessariamente o fim do mundo. Muito ao contrário, simplesmente representaram portas se abrindo para outras oportunidades.
Diversos analistas de mercado defendem que, quando um bull market se encerra, um novo surge necessariamente em outro lugar.
Se há, ao menos na margem, menor interesse nas big techs norte-americanas frente ao observado nos meses anteriores, seria inapropriado insistir na pergunta de quando as big techs voltarão a liderar o movimento de alta. A questão mais pertinente deveria ser qual o novo bull market.
Em termos práticos, os dois grandes inimigos dos ativos de risco brasileiro, desde propriamente o fim da pandemia, vinham sendo os juros muito altos por aqui e no exterior, além do interesse quase exclusivo na temática da inteligência artificial, da qual nós brasileiros estamos basicamente alijados.
Com juros caindo nos EUA, aumenta o apelo da periferia. E se é hora de comprar ativos mais sensíveis à flexibilização da política monetária, as big techs norte-americanas perdem parte do apelo, sobretudo quando o nível de recursos utilizados nessa espécie de corrida armamentista em torno da IA alimenta preocupações de que pode sobrar menos fluxo de caixa para os acionistas.
Espremidos entre os juros muito altos nos EUA e o receio de uma recessão por lá, entre as críticas ao Copom e a sanha arrecadatória do governo, nos esquecemos de que ações ainda são pedaços de empresa.
E também daquela famigerada frase do Warren Buffet (maior investidor de todos os tempos): “se os negócios vão bem, no final as ações acabam seguindo.”
Felizmente, a quase encerrada temporada de resultados relativos ao segundo trimestre tem nos lembrado isso. Abundam exemplos de empresas cujos desempenhos mostram sólido crescimento de lucros, balanços fortes e performances acima das expectativas.
Com efeito, os lucros corporativos se expandem, na média, algo como 15%/20%. Algumas companhias preservam poder de mercado e remarcam preços. Outras fizeram um dever de casa intenso nos últimos anos para controlar custos e despesas operacionais.
E, para todas, os juros são agora menores — não temos a Selic caminhando para 8% como se especulou no começo do ano, mas 10,50% já é bem diferente de 13,75%.
Um fenômeno capaz de desafiar a aritmética elementar dos valuations se manifesta no universo da renda variável nacional.
Pense rapidamente sobre a mais simples métrica de avaliação das companhias: a relação Preço sobre Lucro (P/L). Do parágrafo anterior, inferimos que os lucros estão subindo. Portanto, para o mesmo preço das ações, o múltiplo P/L, que já era baixo, cai.
Ao mesmo tempo, juros menores deveriam significar expansão dos múltiplos. Se o custo de oportunidade do capital naquela economia é menor, por arbitragem, os retornos de todo mercado deveriam cair.
O investidor toparia pagar mais pelo mesmo lucro. É o chamado re-rating, uma reavaliação para cima no preço das ações típica de situações de juros para baixo.
Em resumo, os lucros estão subindo com vigor e os múltiplos deveriam se expandir. Por construção, pela atuação dessas duas forças, os preços das ações deveriam estar subindo. Seja para simplesmente acompanhar os lucros, seja pelo necessário re-rating para o ambiente de juros menores (ou, claro, por uma combinação entre as duas coisas).
Tal movimento pode ser observado na prática com a alta do Ibovespa. É uma verdade, porém que na sala da injustiça, o Ibovespa ainda está próximo de ganhos zero no ano. No entanto, um novo paradigma pode estar a caminho.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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