A correção nos mercados de ações globais se intensificou notavelmente nesta semana, à medida que crescem as preocupações de que o Federal Reserve esteja atrasado em reduzir as taxas de juros em uma economia americana que está mostrando sinais de desaceleração.
No Japão, a queda de 12,4% no Nikkei marcou o pior dia para o índice desde 1987.
Nos EUA, o S&P500 registrou sua maior queda em dois anos e o Nasdaq100 teve seu pior início de mês desde 2008. O índice VIX, conhecido como o "medidor de medo" de Wall Street, atingiu seu pico mais alto desde 1990 em um determinado momento.
As criptomoedas também não ficaram imunes, com o Ether registrando sua maior queda desde 2021.
Essa situação adversa resulta de uma combinação de fatores desfavoráveis, criando uma espécie de tempestade perfeita nos mercados:
Primeiramente, o mercado foi impactado por dados fracos de geração de emprego nos EUA, reavivando temores de uma possível recessão por lá.
Em segundo lugar, o Banco do Japão elevou as taxas de juros na terra do sol nascente.
Por fim, o mercado americano já estava inclinado a uma correção, uma vez que os ganhos recentes foram impulsionados principalmente por um pequeno grupo de empresas de tecnologia, alimentadas pelo otimismo em torno da inteligência artificial.
A situação é agravada pelas crescentes tensões geopolíticas, que não favorecem o cenário de investimentos.
Recentemente, o presidente Biden se reuniu com sua equipe de segurança nacional para discutir uma possível ação militar do Irã contra Israel, que poderia incluir uma ofensiva coordenada com o Hezbollah no Líbano e/ou com os Houthis no Iêmen.
Essa escalada iminente levou os Estados Unidos a aumentar sua presença militar no Oriente Médio, com o envio de um grupo de ataque de porta-aviões e novos esquadrões de caças.
Em meio a esse contexto, há um lado positivo: as especulações sobre um possível aumento da Selic no Brasil estão diminuindo. Assim como não acredito em queda dos juros “na marrra”, nunca acreditei que tal aumento fosse necessário.
No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, espera-se um aumento de 0,34% em relação ao mês anterior, representando uma aceleração em comparação ao índice de 0,21% registrado em junho.
Apesar do Copom ter endurecido o tom contra a inflação em sua última ata, a manutenção da taxa deve ser suficiente. Com a tendência de redução das taxas de juros por parte dos bancos centrais globais, é improvável que haja um aumento da Selic no Brasil.
Mas afinal, é hora de entrar em pânico?
Não, não é necessário entrar em pânico. A situação atual parece ser mais uma manifestação da ansiedade do mercado, que vinha procurando um motivo para realizar uma correção há algum tempo.
Contudo, é preciso continuar vigilante em relação a quaisquer mudanças de cenário que possam surgir.
É interessante notar que o mercado japonês já mostrou sinais de recuperação ontem, o que destaca o exagero do pessimismo observado na segunda-feira.
Como mencionei anteriormente, o mercado, especialmente o americano, estava inclinado a uma correção e finalmente encontrou um pretexto para isso.
Entretanto, o caminho à frente não será fácil. Estudos históricos indicam que, após períodos de alta volatilidade, as ações geralmente levam de quatro a cinco semanas para iniciar uma recuperação consistente.
Embora os mercados tendam a se recuperar em condições de sobrevenda, como as que estamos presenciando agora, é comum que os investidores aproveitem essa recuperação para vender, o que pode levar a novas quedas.
Olhando para frente, a recente onda de vendas no mercado global pode representar uma oportunidade para os ativos brasileiros.
Quando os investidores decidem migrar de ações de crescimento para ações de valor, eles procuram oportunidades em todos os mercados, incluindo os emergentes e aqueles que ficaram para trás, como é o caso do Brasil.
Notavelmente, o Ibovespa iniciou a semana com um desempenho melhor do que os principais índices das bolsas mundiais.
Isso pode ser explicado pelo fato de que os investidores estrangeiros atualmente têm uma exposição muito baixa à bolsa brasileira, e em momentos de vendas maciças, os ativos com maior liquidez são negociados primeiro, o que não é o caso de muitas empresas brasileiras.
Além disso, se o Brasil foi um dos mercados mais negativamente impactados pela alta dos juros, devemos, em teoria, ser um dos mais beneficiados quando os juros começarem a cair.
Quem sabe, ainda possamos ter motivos para otimismo neste segundo semestre.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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