O governo manteve a projeção para o PIB (Produto Interno Bruto – a soma de tudo o que é produzido em um ano) de 2024 em alta de 2,5% e vem comemorando o resultado até aqui. Há inclusive a possibilidade desse número ser revisado para cima até o fim do ano.
O mercado financeiro também está elevando suas projeções, mesmo depois de uma queda expressiva por conta das enchentes no Rio Grande do Sul. Abaixo, os dados do Boletim Focus do Banco Central, que reúne a opinião das principais casas financeiras do país:
Fonte: Banco Central do Brasil e BTG Pactual
Observe, no entanto que as expectativas para o PIB em 2025 vêm caindo...
PIB em alta, teoricamente, significa mais prosperidade a todos, pois mais riqueza estaria sendo produzida e dividida entre todos.
A grande questão aqui é: essa riqueza seria real? Em outras palavras, a economia brasileira estaria com um crescimento sustentável ou estaríamos diante de mais um voo de galinha?
A forma apropriada para identificar isso é analisando a dinâmica do chamado PIB Potencial (capacidade de crescimento da economia sem gerar distorções, como pressões inflacionárias, por exemplo) e do PIB Efetivo (PIB de curto prazo).
Ocorre que ganhos de Produtividade e aumento de Investimentos fazem crescer o PIB Potencial.
Já o aumento de Consumo das famílias, gastos do Governo, Investimentos e Saldo Comercial fazem crescer o PIB Efetivo.
Quando o Efetivo de forma persistente fica acima do Potencial, temos a configuração do chamado voo de galinha.
O crescimento sustentável ocorre com um PIB Potencial crescendo a taxas superiores ao PIB Efetivo, com o PIB Efetivo não o superando.
E como está a dinâmica atual do país? Veja o gráfico abaixo:
De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE FGV), o PIB Efetivo (em vermelho) está acima do Potencial (em preto), desde o primeiro trimestre de 2023.
Ou seja, tecnicamente já configuramos o chamado voo de galinha. Estamos com um crescimento não sustentável que gera distorções.
O governo vem “acelerando” o crescimento de curto prazo, ao praticar uma política fiscal expansionista (gastos elevados). No entanto, quando o PIB Efetivo (que é o divulgado pelo governo e pela imprensa) está acima do PIB Potencial, significa que há um desequilíbrio entre a quantidade de moeda em circulação (papel moeda, dígitos nas contas correntes, crédito etc) e a quantidade de bens e serviços em circulação.
A pressão que a moeda em excesso exerce sobre os preços é a tão comentada inflação (aumento generalizado de preços).
As projeções de inflação pelos dados oficiais ainda estão controladas, mas rapidamente poderão se deteriorar. Inflação mais alta significa juros estruturais mais altos, que impacta negativamente no PIB.
Lembra que as projeções de crescimento para 2025 vêm diminuindo? O mercado financeiro pode estar lendo exatamente isso: mais crescimento (não sustentável) agora, significaria menos crescimento depois.
É o conhecido “vender o almoço para pagar a janta”.
Tudo poderia mudar, se o governo adotasse políticas de aumento do PIB potencial, como:
* segurança jurídica e de propriedade;
* juros estruturais mais baixos, que só podem ser conquistados com o governo reduzindo seus gastos, com isso, os investimentos na economia real poderiam acelerar;
* menos burocracia, mais liberdade e empreendedorismo.
No entanto, parece que estamos um pouco longe disso.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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