Dilema do prisioneiro é aquele tipo de equilíbrio de Nash (do filme “Uma Mente Brilhante”) em que a falta de coordenação entre os envolvidos leva a um resultado pior frente ao que seria o ótimo social.
Apresentado assim: dois suspeitos são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para os condenar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisioneiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença.
Se ambos ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro.
A questão que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como o prisioneiro vai reagir?
O melhor para os dois seria ambos negarem, claro. No entanto, movido pelo autointeresse e sem saber se o colega vai cooperar, um resultado típico costuma ser os dois delatarem, com medo de chegarem ao pior resultado para si.
Há uma série de aplicações do Dilema do Prisioneiro e do tema mais geral de Teoria dos Jogos à Economia. A maior parte delas está centrada na Microeconomia e dinâmicas competitivas, mas não é só isso.
Paul Krugman – economista americano, vencedor do Nobel de Economia de 2008 - tem um artigo clássico sobre coordenação entre política fiscal e monetária na esfera macro. A melhor combinação possível entre as políticas seria um fiscal apertado, com um monetário frouxo.
Ocorre que, sem conseguir confiar na capacidade dos governos se manterem austeros diante do claro viés populista (seja de qual espectro político for), costumamos morrer exatamente no oposto: uma política fiscal frouxa, que força um monetário apertado. Qualquer semelhança com o caso brasileiro não é mera coincidência.
Neste sentido, é curioso como governos de esquerda costumam criticar os juros altos, mas acabam sendo seus principais causadores. O governo gasta mais e impõe uma trajetória não-convergente para a dívida pública. Investidores cobram mais juros para financiar o país.
As expectativas de inflação sobem com medo do Banco Central perder a moeda. A política monetária se vê obrigada a reagir. Voltando à teoria dos jogos, é como se estivéssemos numa dinâmica em que o Copom, embora seja quem define a Selic, apenas reage as escolhas do executivo.
Outra aplicação bem típica se verifica na reforma tributária. O melhor para todo mundo seria nenhum setor produtivo ter alíquota privilegiada.
Todos pagam o mesmo imposto, chegando a isonomia tributária, simplificação e eficiência produtiva. O capital não seria alocado a partir de planejamentos tributários.
Mas sabemos que o setor “A” da economia, que é muito estratégico e tem efeitos sociais enormes, vai lá fazer seu lobby. Então, o setor “B” também se motiva a fazer o mesmo. Em pouco tempo, todo o alfabeto, que gostaria de ter uma alíquota geral menor, está lá barganhando seu próprio benefício.
Assim se forma o país da meia-entrada. Uma porção enorme de setores fica com uma alíquota diferenciada. O resto da sociedade paga a conta. Morremos com a maior alíquota de IVA do mundo.
Tudo isso é conhecido, sem grandes novidades. Agora, porém, entra uma nova dinâmica em cena. Na teoria dos jogos, a prática é outra. No equilíbrio entre Executivo e Legislativo, encontramos um desastre para os verdadeiros liberais.
O governo teoricamente progressista perde todas as pautas de costumes, seja a PEC das Drogas, os vetos da saidinha ou a manutenção da decisão de Bolsonaro para a Lei de Segurança Nacional. Não há progressismo algum na agenda de costumes.
Ao mesmo tempo, observamos a tentativa de recuperar pautas de 20 anos atrás.
Veja bem, o problema não é exatamente que as ideias sejam velhas, mas que sejam velhas e ruins. Não deu certo antes e não há nenhuma evidência de que possam dar certo agora. Dizem que repetir o mesmo procedimento esperando um resultado diferente é uma das definições de loucura.
Vivemos um ambiente de contrarreforma, em que buscamos voltar a um passado anterior à Lei das Estatais, menor independência do Banco Central, insistência obsessiva por refinarias como Abreu e Lima, nova tentativa de revitalizar a indústria naval.
Em meio a tantos ruídos, aqueles investidores esperançosos (dentre os quais me incluo) já caem na tentação de sugerir nomes para as próximas eleições presidenciais.
Com Lula se afastando da Frente Ampla, Haddad buscando seu caminho e Tarcísio ganhando popularidade, vão se acumulando chances reais de um governo mais market friendly a partir de 2027.
No curto prazo, ainda há tempo de mostrar serviço e o foco precisaria ser encerrar a desancoragem das expectativas de inflação. Um primeiro passo importante seria Fazenda e Banco Central voltarem a se falar diretamente.
Reclamar na imprensa que o outro só fala com o mercado não vai ajudar muito.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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