A última semana foi caracterizada pela volatilidade nos mercados globais, com investidores atentos às recentes notícias econômicas vindas dos Estados Unidos.
A coletiva de imprensa de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, teve um papel fundamental em mitigar preocupações. Isso se deu especialmente depois que o índice de custo de emprego para o primeiro trimestre mostrou um aumento acima do esperado.
Durante a coletiva, Powell reduziu as expectativas de um aumento nas taxas de juros para este ano, trazendo alívio aos mercados que temiam exatamente essa possibilidade.
Ele também mencionou que cortes nas taxas de juros podem ser considerados se ocorrer uma deterioração no mercado de trabalho. E essa possibilidade ganhou força na sexta-feira, quando os dados de emprego divulgados ficaram aquém das expectativas, reanimando as esperanças de redução nas taxas de juros nos meses de setembro e dezembro nos Estados Unidos.
A deterioração nos indicadores de emprego é um dos primeiros sinais de enfraquecimento da economia americana. Além disso, houve um aumento na taxa de desemprego e os ajustes salariais foram inferiores ao esperado.
Para nós, brasileiros, a evolução desses eventos é de extrema importância.
Hoje, o Banco Central do Brasil realizará sua reunião de política monetária.
Analistas de mercado estão divididos quanto às expectativas para um possível corte na taxa Selic, oscilando entre reduções de 0,25 ou 0,50 ponto percentual na sessão do Comitê de Política Monetária (Copom).
Recentemente, a inclinação para um corte de 0,25% ganhou força. Segundo o Boletim Focus, a expectativa para a taxa Selic de referência para o final de 2024 subiu para 9,63% ao ano, um ajuste que parece refletir o crescimento interno, o aumento do risco fiscal e a resiliência da economia dos EUA.
Conforme relatado na ata da última reunião do Copom em março, mantendo-se um alto nível de incerteza prospectiva, um ritmo mais gradual de flexibilização monetária poderia ser mais adequado.
Sem dúvida, a incerteza, especialmente no cenário externo, aumentou desde a última reunião. Portanto, é improvável que a decisão do Copom seja unânime.
Nesse contexto, será crucial observar não apenas a decisão final e o conteúdo do comunicado, mas também como será a divisão de votos e como votarão Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti, ambos cotados como possíveis sucessores de Roberto Campos Neto no próximo ano.
Adicionalmente, a agenda econômica aguarda a divulgação do IPCA de abril nesta sexta-feira, com expectativas de um aumento mensal de 0,38%, o que significaria uma aceleração em relação a março.
Esta aceleração deve ser ampla, impulsionada por fatores como condições climáticas adversas que afetam os preços dos alimentos, redução dos descontos em bens industriais duráveis aplicados em março, aumentos sazonais em vestuário e produtos farmacêuticos, além de elevações nos preços dos combustíveis.
Um eventual resultado abaixo do esperado seria positivamente recebido pelo mercado, especialmente se acompanhado por uma queda na inflação de serviços, como algumas casas de análises antecipam.
Por outro lado, as recentes indicações no âmbito fiscal foram desfavoráveis.
Em abril, a meta de resultado primário do governo foi revisada de 0% para 0,5% do PIB. Embora essa alteração ainda represente um cenário mais otimista do que o previsto para as finanças públicas, ela reflete a continuidade de práticas fiscais questionáveis.
A expansão dos gastos governamentais tende a manter a demanda interna aquecida e os prêmios de risco elevados.
A ausência de uma âncora fiscal pesa significativamente sobre a política monetária e não seria surpreendente se esse contexto fosse mencionado de forma mais detalhada na ata.
Seja como for, a falta de credibilidade fiscal implica na manutenção de juros mais altos. A ver.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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