Os ativos brasileiros enfrentam uma fase de notável deterioração, evidenciada por uma combinação de elementos.
De certo modo, preocupações fiscais, manifestadas através de altos juros reais, e a significativa retração de investimentos estrangeiros na bolsa (com saídas que somam R$30 bilhões no ano) têm impactado negativamente a valorização dos ativos domésticos. Esse cenário é agravado pelo adiamento do corte de juros pelo Federal Reserve, o banco central americano.
Uma regra prática comum para investimentos em renda fixa no Brasil sugere vender títulos quando os juros reais atingem 3% e comprá-los a 6%.
Esta estratégia busca equilibrar expectativas, evitando perspectivas excessivamente otimistas ou pessimistas sobre o futuro econômico do país.
A trajetória dos juros reais, particularmente evidenciada pelo desempenho do Tesouro IPCA com vencimento em 2035, oferece suporte empírico a essa abordagem.
Ao analisar os fatores por trás do aumento dos juros reais, destacam-se algumas das principais razões:
* A recente baixa demanda por títulos;
* Uma inflação persistente combinada com uma atividade econômica que supera as expectativas;
* O ambiente internacional limitante, especialmente a demora na redução das taxas de juros nos EUA, que restringe a margem para cortes no Brasil; e
* Nossas preocupações fiscais que afetam negativamente as expectativas da nossa inflação.
Esses elementos são cruciais na compreensão da dinâmica atual dos juros, embora existam outros fatores em jogo. Uma análise detalhada dessas questões é essencial para entender plenamente o cenário econômico vigente.
A escassez de interesse pela aquisição de títulos públicos, por exemplo, pode ser atribuída, entre outras coisas, à ausência de compradores atraídos, motivando uma revisão acerca dos títulos isentos de impostos.
Estes foram criados para promover o financiamento em setores vitais como o agronegócio e o imobiliário, beneficiando-se de incentivos fiscais. Em um cenário desses, a procura por títulos públicos se torna menos atraente, a não ser que estes ofereçam retornos mais elevados.
No entanto, o panorama sofreu alterações importantes recentemente. Algumas decisões do Conselho Monetário Nacional (CMN) introduziram novas normas para emissão de títulos de renda fixa isentos de impostos voltados ao agronegócio e ao setor imobiliário, incluindo modalidades como LCI, LCA, CRI e CRA.
Agora, apenas empresas com mais de dois terços de sua receita proveniente destes setores estão habilitadas a emitir CRIs e CRAs. Além disso, o prazo mínimo para LCAs e LCIs, oferecidas por instituições financeiras, foi ampliado de 90 dias para 9 e 12 meses, respectivamente.
As novas diretrizes já estão impactando o mercado: após um aumento de até 50% no volume de títulos bancários em 2023, houve uma queda nas emissões de fevereiro e março, seguindo as limitações impostas pelo CMN, com reduções consideráveis nas emissões de LCIs e LCAs.
Essa transformação no mercado de títulos isentos de impostos, combinada à conjuntura de taxas de juros mais baixas, sugere um potencial de diversificação de investimentos no Brasil, adaptando-se às novas condições.
Nas últimas semanas, o cenário global financeiro se ajustou significativamente, com investidores recalibrando suas expectativas em torno da flexibilização da política monetária dos Estados Unidos.
Surpreendentemente, tanto a atividade econômica quanto a inflação têm excedido previsões. O mercado de trabalho, por exemplo, tanto no Brasil quanto nos EUA, demonstra robustez.
Os olhares se voltam agora para os próximos indicadores, que definirão as tendências dominantes. O ambiente atual sugere a necessidade de taxas de juros mais altas no curto prazo, afetando as curvas de juros globalmente.
Notavelmente, os rendimentos dos títulos públicos americanos de 10 anos, que já haviam alcançado 3,80% no final do ano passado, ultrapassaram recentemente os 4,30%. Este movimento repercute globalmente, influenciando também o mercado brasileiro.
A persistência elevada da inflação tem desafiado as expectativas de uma rápida convergência para as metas estabelecidas, impactando negativamente o cronograma previsto para a redução das taxas de juros nos Estados Unidos e interferindo no processo de ajuste monetário já iniciado no Brasil.
Desta forma, o cenário fiscal brasileiro representa uma peça chave no panorama econômico atual, destacando-se pela urgência do governo em submeter ao Congresso Nacional, até o dia 15 de abril, a proposta para a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, sob a liderança da ministra Simone Tebet.
Na ausência de uma diretriz fiscal clara, a atenção se desloca para a política monetária. O mercado, no momento, já espera uma taxa Selic de aproximadamente 9,75% para o ano corrente, antecipando ajustes na gestão das taxas de juros. Existe a expectativa de que a Selic possa ser reduzida para níveis inferiores, ainda que o ritmo de flexibilização possa ser desacelerado a partir de junho.
A falta de clareza em aspectos como intervenções governamentais na economia, o temor de uma guinada populista para elevar a popularidade do governo e inconsistências no discurso presidencial têm intensificado a ansiedade.
Essa atmosfera de incerteza contribui para um prêmio de risco elevado nos títulos do Tesouro Nacional, com papéis vinculados à inflação apresentando rendimentos reais na casa dos 6%.
Fonte: Tesouro Nacional.
Enquanto existe a previsão de um ajuste negativo no curto prazo, o panorama de longo alcance se revela promissor, convidando à reflexão sobre estratégias de investimento ponderadas.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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