Semana passada abordei as narrativas predominantes que vejo no mercado petrolífero.
Hoje me aprofundarei na Petrobras (PETR4). A companhia quebrou novo recorde de valor de mercado, chegando aproximadamente aos 570 bilhões de reais no dia 19 de fevereiro.
Mas o que realmente me chamou a atenção foram as justificativas que seu CEO Jean Paul Prates deu para que tal feito fosse alcançado. Aqui vão elas:
"Entre as medidas que permitiram alcançar tais resultados, a empresa destaca a nova estratégia comercial para gasolina e diesel; o aprimoramento da política de remuneração aos acionistas, que inclui o programa de recompra de ações". Prates também disse que "o recorde é consequência da retomada de investimentos que a nova gestão tem realizado no último ano."
Com relação à mudança da política comercial, a nova estratégia tende a ser pior para os resultados do que a antiga, porque não obriga os preços a seguirem as cotações internacionais, e isso permite que a companhia abra mão de margem para não descontentar a população e o governo, caso o preço lá fora suba.
Essa mudança pode não ter atrapalhado muito os resultados da Petrobras até agora, mas também não ajudou e abre espaço para surpresas negativas no futuro. Ou seja, não foi por causa da estratégia comercial.
Sobre o "aprimoramento da política de remuneração", houve uma clara piora: em julho de 2023, a Petrobras reduziu a distribuição de dividendos de 60% para 45% do fluxo de caixa livre, um corte considerável, e que certamente não deixou nenhum acionista feliz. Ou seja, também não foi por causa da nova remuneração.
Sobre a estratégia de investimentos, também vejo uma piora. A companhia parou de vender ativos ruins e voltou a aportar dinheiro em negócios com retorno muito baixo, o que afeta a rentabilidade consolidada. Ou seja, também não foi por causa disso.
Por que a Petrobras vem subindo então?
Por causa do Petróleo e do pré-sal, e apesar de sua nova gestão.
A verdade é que com o petróleo nos patamares atuais (US$ 80/barril) e com os custos reduzidos por conta do pré-sal, a Petrobras gera um montante absurdo de caixa.
Lembro que a Petrobras teve sete presidentes diferentes nos últimos seis anos, e mesmo nenhum deles sendo brilhante, os resultados seguiram muito sólidos durante todo esse período. Com o petróleo nos níveis atuais, basta que a gestão não atrapalhe muito para que ela continue gerando valor, mesmo que isso não seja assim tão simples em se tratando de uma estatal.
Fato é que, apesar das mudanças negativas em sua política comercial, de investimentos e de remuneração aos acionistas, o caixa extra gerado com o barril nos preços atuais mais do que compensou as alterações.
Para falar a verdade, a Petrobras poderia gerar resultados ainda melhores se não fossem essas mudanças.
Mas enquanto as condições permanecerem favoráveis, não há muitos motivos para se preocupar com isso.
O problema é que o preço do petróleo pode mudar, e as alterações recentes na estratégia podem tornar a companhia menos preparada para enfrentar adversidades.
Por exemplo, não tem muito problema gastar mais com investimento em energia eólica e tudo o que não for o que realmente gera valor para a companhia – o pré-sal –, mas se o preço do petróleo cair muito, vai começar a faltar dinheiro para essas “novas aventuras”.
Qual será a estratégia da companhia neste novo cenário, cortar ainda mais os dividendos, ou rever o investimento nesses outros ativos pouco rentáveis?
Se o petróleo começar a subir demais lá fora, a nova política de precificação de combustíveis pode abrir espaço para que a companhia segure os repasses para não desagradar o governo e comece a oferecer subsídios para o diesel e a gasolina, o que já aconteceu no passado e quase destruiu a empresa.
Ou seja, essas mudanças abrem espaço para consequências negativas, ainda que por enquanto não precisamos nos preocupar muito com elas.
Particularmente nem acho que a Petrobras seja um investimento ruim, sendo inclusive uma das posições da carteira de ações do BTG neste momento.
Meu objetivo aqui é fazer você investidor entender o verdadeiro motivo da melhora de resultados da companhia, caso contrário correrá o risco de começar a torcer para mudanças que ao meu ver só atrapalham os resultados dela.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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