Neste início de 2024, o mercado de petróleo testemunhou aumento de preços, impulsionado principalmente pela geopolítica, destacando-se os riscos associados ao Oriente Médio.
Essa situação me leva a ponderar sobre quatro narrativas predominantes no setor petrolífero.
A primeira, relacionada à transição energética, prevê uma redução significativa ou até mesmo o fim da indústria de petróleo e gás após 2050. Particularmente, considero improvável a extinção completa dessa indústria neste século, uma visão que deixo para os especialistas em futurismo. Ainda assim, reconheço que exista um vetor negativo para os preços da commodity em um futuro distante.
A segunda narrativa decorre justamente dessa percepção de que o mundo eventualmente se afastará dos combustíveis fósseis, o que levou a um baixo investimento no setor na última década, resultando em uma capacidade produtiva inadequada para atender à demanda. Isso sugere que os preços do petróleo permanecerão em patamares elevados nos próximos anos devido à escassez de oferta. Menor oferta significa maiores preços.
A terceira história é marcada pelas tensões geopolíticas, como a invasão da Ucrânia pela Rússia e a resposta de Israel aos atentados do Hamas, que impactam diretamente os preços do petróleo, elevando-os.
Essa narrativa considera os efeitos dessas tensões na logística global, exemplificados pelos ataques no Mar Vermelho que levaram as transportadoras a adotar rotas alternativas mais longas e caras, como a viagem ao redor do Cabo da Boa Esperança, contornando a África.
Ocorre que mudanças de rota aumentam significativamente os custos de transporte e os prazos de entrega, potencialmente afetando os preços dos produtos e ameaçando o alívio da inflação observado recentemente.
Por fim, existe o desafio de desaceleração econômica, minha quarta narrativa. A inflação pós-pandemia levou os bancos centrais a elevarem as taxas de juros, visando controlar a escalada dos preços. E embora começamos a ver um relaxamento dessas medidas, o aperto monetário teve como consequência a desaceleração da atividade econômica, diminuindo a demanda.
Assim, encontramo-nos diante de quatro narrativas que moldam o mercado do petróleo: duas pressionando os preços para cima, devido à diminuição da oferta e às tensões geopolíticas, e duas pressionando para baixo, refletindo a transição energética e a redução da demanda no curto prazo.
Cinco anos atrás, diante do cenário de recusa europeia às exportações energéticas russas em resposta à invasão da Ucrânia e do risco de conflito regional no Oriente Médio, poderíamos facilmente prever preços do petróleo alcançando US$ 150 por barril.
No entanto, o mercado atual apresenta uma complexidade que vai além dessas expectativas.
Apesar do entrelaçamento de várias dinâmicas globais, os preços do petróleo têm se mantido relativamente estáveis, oscilando entre US$ 75 e US$ 85.
Neste panorama, destaca-se o papel dos Estados Unidos como líder indiscutível na produção de petróleo e gás natural nos últimos quinze anos, um título conquistado através da revolução do xisto. Este movimento, impulsionado por avanços tecnológicos, permitiu a exploração e extração de reservas energéticas que antes eram consideradas inalcançáveis.
Contrariando as expectativas de alguns analistas sobre um declínio iminente nos benefícios da revolução do xisto, os dados recentes da Administração de Informação de Energia dos EUA indicam um futuro promissor: a produção de petróleo, que já havia batido recordes em 2023, é projetada para crescer ainda mais nos próximos anos.
Esta expansão na oferta de energia é um fator contribuinte para a estabilidade dos preços do petróleo, apesar dos desafios impostos pela Opep+ e as tensões geopolíticas envolvendo a Rússia e o Oriente Médio.
Outro ponto de atenção deriva de um relatório recente da OPEP, que sugere que a demanda global por petróleo continuará a crescer, impulsionada principalmente pelo aumento do consumo dos países em desenvolvimento.
O cenário desafia os apelos por uma desaceleração nos investimentos em novos projetos de petróleo e destaca a necessidade crítica de financiamento para evitar um futuro de instabilidade econômica e energética.
A complexidade de fatores, que inclui a resistência estrutural à queda dos preços do petróleo e as implicações da expansão da produção energética, ilustra o delicado equilíbrio entre avanço tecnológico, demanda crescente por energia e os imperativos climáticos globais.
Por isso, mantendo uma perspectiva equilibrada sobre os investimentos em petróleo, este ativo continua sendo uma opção atrativa dada a volatilidade geopolítica, particularmente no Oriente Médio.
Atualmente, existe uma grande aposta contra o petróleo, refletindo um consenso geral de pessimismo sobre a commodity. Isso, paradoxalmente, torna o petróleo um hedge econômico – uma forma de proteção - relativamente acessível.
Afinal, um aumento súbito nos preços do petróleo poderia complicar o processo de desinflação em curso, limitando a margem para redução das taxas de juros e impactando negativamente os mercados acionários.
Considerando isso, o petróleo funciona como um hedge estratégico neste momento, oferecendo uma espécie de seguro contra eventos adversos que poderiam abalar o mercado.
Neste sentido, investir em empresas petrolíferas brasileiras é uma opção válida, com a Petrobras (PETR4) e a 3R Petroleum (RRRP3), ambas com seus desafios específicos, mas ainda assim interessantes para uma carteira bem diversificada.
Para aqueles que preferem diversificar globalmente, um ETF como o SPDR S&P Oil & Gas Exploration & Production (NYSE: XOP) ou uma ação de uma companhia estabelecida, como a British Petroleum (NYSE: BP) pode ser interessante.
Essa exposição não deve predominar na carteira mas deve ser suficientemente sólida para capitalizar sobre o potencial positivo do setor e atuar como um escudo contra a inflação, possivelmente mantendo sua relevância nos próximos anos.
Sempre bom lembrar que é crucial calibrar o peso desses investimentos de acordo com o seu perfil de risco, integrando-os a uma estratégia de diversificação abrangente e adotando as medidas de proteção apropriadas para garantir um equilíbrio ideal na carteira de investimentos.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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