Ao fim de 2022, com a vitória do PT nas urnas, o mercado passou a considerar com mais seriedade a hipótese de um Lula rancoroso, avesso à responsabilidade fiscal, e guinando definitivamente para a extrema esquerda.
Mais tarde, e com o trabalho desenvolvido pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, veríamos que aquelas preocupações eram exageradas.
Ocorre que nos primeiros meses de 2023, porém, imperava a dúvida. Muitos investidores desmontaram posições valiosas em Bolsa, em troca de mais proteções. Ao fim, o Ibovespa registrou alta de 22,28% aos 134.185 pontos.
Neste novo início de ano, acontece algo parecido, e com bons motivos (sempre existirão motivos para aqueles que sabem procurá-los).
De repente, surgiu esse papo de que o Governo queria colocar Guido Mantega na Vale. Alguns defendem que ele teria credenciais para tanto, visto que foi o ministro da Fazenda mais longevo da história brasileira.
Surge também o fato de que a Petrobras de Jean Paul ressuscitará Abreu & Lima, já que nenhum custo deve ser sacramentado como irrecuperável antes que o dinheiro acabe.
Para completar, uma "nova" política industrial permitirá que o BNDES assine um cheque de R$ 300 bilhões, voltando a ter o papel que lhe cabe no desenvolvimentismo.
Desta vez, seu presidente Aloizio Mercadante garantiu que não serão escolhidos os campeões nacionais. Portanto, meu amado Goytacaz enfim terá uma chance de trocar sua dívida cara por passivos muito mais convenientes.
Brincadeiras à parte, todos esses boatos e fatos incomodam muito o mercado, mas precisamos guardar as preferências ideológicas no bolso de trás da calça para podermos avaliá-los com a devida sobriedade.
Embora fosse melhor deixar Abreu & Lima e sua triste história de corrupção enterrada, a bem verdade é que seu capex marginal não é mais tão relevante face à atual geração de caixa de Petrobras.
Um Mantega aposentado é preferível a um Mantega conselheiro da Vale, que por sua vez, é mil vezes preferível ao Mantega CEO (por hora teriam desistido da ideia).
Finalizando, tudo indica que nem o próprio Lula gostou do plano industrial, por evocar as reminiscências de uma ferida aberta chamada Dilma Rousseff.
Aliás, conforme vivenciamos durante a gestão Dilma, o esquerdismo radical custa caríssimo aos nossos bolsos.
Contudo, o medo de comunistas pode custar tanto quanto, ou até mais.
De forma prática, hoje teremos a primeira “Super Quarta” do ano. Quem me acompanha por aqui já sabe que esse termo indica o dia em que ocorrem simultaneamente as reuniões de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Na atual conjuntura econômica, espero que o Comitê de Política Monetária (COPOM) proceda com uma redução adicional de 50 pontos-base na taxa Selic, levando-a a 11,25% ao ano.
Apesar de alguns atores do mercado acreditarem em redução ainda maior da Selic, meu posicionamento se dá, em parte, devido à contínua disputa fiscal que ainda está em andamento em Brasília.
Está claro que haverá uma revisão da meta fiscal em algum ponto até março, o que provavelmente causará considerável agitação no mercado. Desta forma, o Banco Central terá um papel crucial em atuar como um pilar de estabilidade para manter a credibilidade do Brasil, enquanto ajustamos nossas expectativas econômicas.
Nos EUA, a história é um pouco diferente. O modo como a inflação se aproximou do objetivo estabelecido pelo Federal Reserve (FED), sem causar impactos significativos no emprego, convenceu muitos analistas de que a autoridade monetária conseguiu triunfar nessa frente.
No entanto, para que esse sucesso seja definitivo, é essencial que o aumento dos preços seja realmente uma questão do passado. Com isso em mente, espero que as taxas de juros se mantenham estáveis, oscilando entre 5,25% e 5,50% ao ano.
Olhando por um ângulo otimista, podemos estar nos aproximando de um cenário em que a economia americana cresce, a inflação diminui, e as taxas de juros se tornam mais flexíveis a partir de maio ou junho. É uma conjuntura rara, mas possível.
Em resumo, o cenário tem potencial para ser positivo.
Sim, há riscos no horizonte, como a situação fiscal nos EUA e no Brasil, o cenário eleitoral com a possível disputa entre Donald Trump e Joe Biden em novembro, e questões geopolíticas. Apesar de uma aparente estabilização nas relações EUA-China no curto prazo, a tensão no Oriente Médio tem se intensificado alarmantemente.
Sempre bom lembrar que o bom investidor precisa trabalhar com cenários e probabilidades associadas, nunca com certezas absolutas. Ainda assim, um ciclo de redução dos juros tende a ser benéfico para os ativos de risco.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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