Após pausa para um merecido descanso, retomamos nossas conversas semanais nesta quarta-feira.
Até aqui, os primeiros dias do ano transcorreram com uma movimentação mais contida, com uma inclinação negativa, corrigindo os excessos de 2023 e antecipando possíveis desafios para o novo ano.
A pergunta atual seria: o mercado exagerou no rali de fim de ano ou está preparado para mais? Lembro que o índice Ibovespa atingiu sua máxima histórica.
Há uma crescente preocupação com a possibilidade de uma recessão severa nos EUA e novos desafios geopolíticos, especialmente aqueles que começam a se intensificar no Mar Vermelho.
Neste sentido, para evitar a área afetada (cerca de 15% do comércio marítimo mundial normalmente passa pelo Mar Vermelho), várias grandes empresas de transporte marítimo começaram a adotar rotas mais longas, ao redor da África.
Essa situação levou a um aumento significativo nos preços do petróleo e nos custos de transporte. No entanto, os EUA afirmaram o compromisso de garantir a segurança da rota comercial.
Fora esses pontos, o mercado ainda assimila os dados de emprego dos EUA, divulgados na semana passada. Nos últimos 11 meses, tivemos 10 revisões negativas nos dados de criação de emprego por lá, removendo quase meio milhão de empregos. Em resumo, o famoso Payroll pode ser considerado fraco.
Ocorre que essa situação é positiva, pois abre espaço para uma possível redução da taxa de juros neste semestre por lá.
É sempre bom recapitular. Após a pandemia, quando a inflação inicialmente foi considerada transitória pelos Bancos Centrais, meses se passaram e a inflação, ao invés de diminuir, aumentou de forma mais intensa e duradoura do que se previa.
Os Bancos Centrais reavaliaram a transitoriedade da inflação e abandonaram a caracterização do fenômeno como temporário.
Iniciaram processos agressivos de aperto monetário e foram criticados por seu erro de avaliação.
Recentemente, a inflação começou a desacelerar, e a interpretação predominante é que, embora tardiamente, a política monetária surtiu efeito.
Com juros mais altos, a demanda diminuiu e a inflação também, fazendo com que 2023 tenha sido um ano positivo para os ativos de risco.
Nos EUA por exemplo, o índice S&P 500 se aproximou do seu pico histórico de 4.797 antes de ter uma leve queda no final do ano, mas ainda encerrou com um ganho de 24%, marcando a maior alta desde 2021.
A previsão consensual apontava para uma recessão nos EUA em 2023, mas essa expectativa mostrou-se completamente equivocada.
O Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu. Essa dinâmica manteve os lucros das empresas em patamares elevados, apesar de alguns contratempos no início do ano, como a questão dos bancos regionais.
Deslocando o foco para a Ásia, especificamente a China, as atenções recaem sobre os dados de inflação e comércio programados para o final desta semana.
Esses dados deverão refletir a persistente fragilidade da economia chinesa.
Diante do cenário delicado, o presidente chinês Xi Jinping, comprometeu-se a fortalecer a dinâmica econômica e impulsionar a criação de empregos, reconhecendo os desafios enfrentados em 2023 – uma rara admissão das adversidades internas que o país enfrenta.
Mesmo ao destacar as conquistas nacionais em seu discurso anual de Ano Novo, o líder chinês, não deixou de reconhecer as derrotas. Ele parece ter aceitado a realidade.
Nesse contexto, a China está adotando medidas para injetar recursos na indústria, buscando mitigar os impactos da crise imobiliária.
No cenário brasileiro, após um ano notável para as ações e os títulos do Tesouro, os investidores redirecionam suas preocupações para as notícias vindas de Brasília.
Nos bastidores, a equipe econômica permanece dedicada a preservar a recente Medida Provisória de Reoneração da folha e a objeção de Lula ao dispositivo da Lei de Diretrizes Orçamentárias que fixa um cronograma para o governo lidar com as emendas.
Até o momento, não há indícios de que Lula planeje realizar alterações substanciais entre os ministérios para agradar o Congresso.
Essa postura pode ser interpretada como um equívoco. Caso não haja consenso para resolver a impasse entre os congressistas sobre a reoneração gradual da folha, o Ministério da Fazenda não terá alternativa senão ajustar a meta fiscal. Ao meu ver, essa perspectiva parece inevitável hoje.
Outras medidas de arrecadação podem emergir nas próximas semanas, mas a discussão certamente envolverá algum contingenciamento de gastos. Naturalmente, essas tensões fiscais exercerão influência na curva de juros.
Com tantos acontecimentos no Brasil e no mundo, retorno ao questionamento inicial se o rally da nossa Bolsa já tenha atingido seu ápice. Minha convicção é de que não.
Em se tratando especificamente do nosso país, na verdade, acredito que somos uma das oportunidades cíclicas mais atrativas nos mercados emergentes.
As ações brasileiras, do Índice MSCI Brasil, apresentaram um ganho em dólares de 32,7% em 2023. Mais de 11% dessa recuperação derivou de uma moeda mais forte, e estamos apenas começando a observar sinais de melhorias nos lucros.
Melhorias essas impulsionadas pelas consistentes superações no crescimento, exemplificadas por 14 trimestres consecutivos de crescimento acima do consenso. Isso é impressionante.
Ao analisar a balança comercial, após seguidos superávits, ainda podemos antever mais resultados positivos.
Não apenas devido ao setor agrícola, mas também porque o Brasil tem planos de expandir a produção de petróleo, almejando tornar-se o quarto maior produtor mundial até 2030.
Isso representa uma transformação significativa, convertendo o país em uma vasta fonte de dólares provenientes de suas exportações diversificadas de commodities.
Do ponto de vista geopolítico, o Brasil se encontra isolado das adversidades enfrentadas por outras regiões, como Rússia, Ucrânia, Israel, Palestina e China.
Além disso, já estamos avançados no ciclo de flexibilização da política monetária, com previsões de novas quedas nos juros para o ano que se inicia.
A soma desses fatores deverá resultar em benefícios para o Brasil. Portanto, mantenho a recomendação de posição na Bolsa.
Essas decisões devem ser tomadas com o devido dimensionamento das posições, considerando o perfil de risco, e uma adequada diversificação da carteira, com as devidas proteções associadas.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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