Pela última vez em 2023, nos deparamos com mais uma Super Quarta, marcando a ocorrência de reuniões de política monetária no Brasil e nos EUA.
O episódio desta semana, já foi amplamente antecipado pelo mercado, incorporando nos preços as movimentações das autoridades monetárias.
Na última sexta-feira, o relatório de emprego dos EUA, o famoso dado de payroll, veio mais forte do que o esperado, principalmente devido à contratação de 30 mil pessoas após o fim da greve dos sindicatos dos trabalhadores das montadoras, ou seja, havia contratações represadas.
O número esfriou um pouco o sentimento, mas não desanimou os investidores completamente.
Afinal, o crescimento dos salários continua a diminuir todo mês e a variação anual do payroll segue em queda, com um contínuo aumento das demissões de trabalhadores e uma redução do número de empresas que estão contratando.
Em outras palavras, a barra para o corte de juros pode ter aumentado, mas o final do ciclo de aperto monetário ainda é um sentimento comum.
Tanto é verdade que, por mais que o índice de confiança dos consumidores tenha vindo acima do previsto, o que vimos foi uma forte queda nas perspectivas para a inflação, que tradicionalmente aponta para o fim do ciclo de aperto monetário.
Portanto, não vislumbro outro desfecho além da manutenção das taxas entre 5,25% e 5,50% ao ano pela terceira vez consecutiva.
As atenções estarão em qualquer alteração no tom dos discursos, especialmente durante a coletiva de Jerome Powell (presidente do Federal Reserve), para prever quando e em que medida os cortes nas taxas começarão.
Atualmente, a maioria dos participantes do mercado aposta em cortes nas taxas a partir de maio por lá.
No Brasil, é provável que continuemos com os cortes de juros. Minha aposta é de redução de mais 0,5% da Selic, encerrando 2023 com uma taxa básica de 11,75% ao ano.
O discurso por aqui deverá ser mais cauteloso, indicando mais cortes de magnitude similar para 2024 e mencionando pluralmente as "próximas reuniões". Entre os riscos, além do contexto internacional complexo, ressurge a preocupação com as questões fiscais.
Neste sentido, os próximos dias até o recesso legislativo em 22 de dezembro, prometem ser intensos em Brasília.
Começando pelo fato de que o relatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2024 foi apresentado com uma disposição que atende ao governo e pode limitar o bloqueio de gastos a R$ 23 bilhões em 2024.
Não vejo com bons olhos essa mudança. A nova redação produz o mesmo efeito pretendido pela emenda rejeitada e acabará com o contingenciamento em 2024. Na prática, além de abrir um precedente desfavorável, isso deteriorará ainda mais o recém-criado arcabouço fiscal.
O déficit primário acumulado consolidado do governo continua crescendo, podndoe atingir 1,4% do PIB ao final de 2023.
Reverter essa tendência de deterioração já seria uma mudança positiva, mas a pressão por mais aumentos de gastos persiste, enquanto o crescimento da arrecadação deve continuar frustrando.
Além da votação da LDO/24, haverá uma agenda densa com as votações dos projetos das apostas, da MP das subvenções (a “bala de prata” de arrecadação para cumprir o máximo possível do arcabouço) e da reforma tributária.
Isso sem mencionar a análise dos vetos de Lula, como do marco temporal, arcabouço e fim da isenção da folha de pagamento. O volume de temas em um espaço limitado gera impacto na curva de juros e compromete a clareza.
Simultaneamente, ontem foi divulgado o IPCA fechado de novembro, com uma alta 0,28%. No acumulado do ano, a expectativa é de uma inflação convergindo para menos de 4,5%, o que facilitaria a missão do Banco Central de reduzir mais a taxa Selic.
Sobre este tema, é preciso monitorar a possibilidade de redução dos preços da gasolina nas próximas semanas, após a Petrobras já ter implementado cortes no diesel.
Mesmo diante da diminuição dos valores da gasolina e do barril de petróleo no cenário internacional, a estatal petrolífera reluta em efetuar os ajustes necessários.
A perspectiva é que esse corte seja adiado, pois realizar o ajuste agora terá repercussões na inflação de 2023, que já se projeta dentro da banda de variação exigida.
Postergar o corte para o início de janeiro impactará a inflação de 2024, o que mitigaria parcialmente os efeitos adversos do aumento do ICMS em vários estados.
Honestamente, movimento puramente político. Independentemente do timing, não vejo como isso pode alterar substancialmente nossa trajetória de inflação.
Além do corte de hoje, continuo a apostar em cortes adicionais de 0,5% nas primeiras reuniões de 2024, conduzindo a taxa de juros em direção a um dígito único até o final do próximo ano ou início de 2025, com uma Selic próxima dos 9%.
O impacto disso, evidentemente, deverá ser favorável para ativos de risco como ações e fundos imobiliários.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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