Semana curta e agitada para os brasileiros devido ao feriado de amanhã. Temos hoje outra "Super Quarta", quando coincidem as reuniões de política monetária dos Bancos Centrais do Brasil e dos EUA.
Por aqui, espera-se que uma nova redução de 0,5% na taxa Selic seja uma decisão unânime entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom), levando a taxa básica de juros para 12,25% ao ano.
No entanto, o comunicado provavelmente será mais cauteloso, considerando as turbulências no cenário internacional, como a contínua alta das taxas de juros nos EUA e a situação no Oriente Médio.
Desde a última reunião, o cenário global tornou-se mais incerto, exigindo uma atenção redobrada por parte dos responsáveis pela política monetária. Além disso, o episódio envolvendo o governo federal complica ainda mais o cenário.
Na sexta-feira da semana passada, o presidente Lula surpreendeu ao afirmar que a meta fiscal não precisa necessariamente ser zero, como vinha sendo defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na perspectiva de Lula, alcançar a meta de déficit zero é improvável, uma vez que ele não está disposto a realizar cortes em investimentos e obras.
Como abordei em setembro, embora ninguém no mercado realmente acreditasse em uma meta de déficit zero para o próximo ano, a declaração de Lula teve um impacto negativo na confiança, anulando parte dos esforços realizados pela equipe econômica ao longo de meses e lançando incertezas sobre a meta fiscal em 2024.
No Congresso, as negociações para obter uma parte desse déficit já estavam em andamento e agora devem aumentar.
O presidente questionou: "Se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, o que é? De 0,25%, o que é?" Em resposta, presidente, posso dizer que é bem diferente do que o governo vinha prometendo.
Pelo que acompanhei, existem diversas interpretações para esse movimento conturbado.
Primeiro, especula-se que Lula possa estar sofrendo pressões e, devido à sua idade avançada, seja natural cometer deslizes, especialmente considerando a frustração do governo atual em comparação com o que foi alcançado em seu primeiro mandato.
Em segundo lugar, o presidente pode ter se sentido pressionado a conceder mais cargos para aprovar propostas, como no caso da presidente da Caixa Econômica Federal, e isso pode ter feito com que ele desejasse mostrar força, especialmente em relação ao presidente da Câmara, Arthur Lira.
Por fim, Lula pode estar antecipando a necessidade de fazer concessões políticas significativas e, ao sinalizar uma disposição de lidar com um déficit (cujo tamanho ainda é incerto), ele busca angariar apoio no Centrão, mesmo que isso signifique desagradar o mercado financeiro e a equipe de Haddad.
Independentemente da razão, essas declarações vieram em um momento bastante inoportuno, especialmente às vésperas da reunião do Copom, onde já se esperava um corte na taxa de juros acompanhado de um comunicado duro, em função do cenário internacional. Agora, o cenário tornou-se ainda mais incerto.
Importante observar que as expectativas de inflação para 2023 melhoraram nas últimas semanas, enquanto as expectativas para 2024 permaneceram praticamente estáveis.
No entanto, ainda não temos uma ancoragem, o que é uma preocupação para o Banco Central, dado o seu objetivo de manter a confiança na meta de inflação.
Desde o início do atual ciclo, o Copom tem sinalizado unanimemente a intenção de promover reduções na mesma magnitude nas reuniões subsequentes.
Essa estratégia foi adotada em agosto e repetida em setembro para conter expectativas de cortes mais agressivos nas taxas de juros.
Mantenho meu cenário para a Selic em 11,75% no final deste ano e algo em torno de 9% até o final de 2024.
É preciso estar atento aos riscos que possam levar a uma desaceleração no ritmo de cortes, incluindo o crescimento interno, a evolução da agenda fiscal no Congresso nas próximas semanas e meses, e o aumento da incerteza no cenário externo.
Nos Estados Unidos, a situação é um pouco diferente.
Ao longo de cerca de pouco mais de um ano, o Federal Reserve (Fed) aumentou agressivamente as taxas de juro para o seu nível mais elevado em 22 anos.
Isso é a ferramenta mais conhecida para manter a inflação sob controle e maximizar o emprego, que são suas duas funções fundamentais, conforme determinado pelo Congresso. No entanto, essa não é a única ferramenta à disposição do banco central americano no combate à inflação.
O Fed também gere um balanço que contabiliza trilhões de dólares em títulos. Este balanço é utilizado como uma ferramenta macroeconômica para enfraquecer ou fortalecer a economia.
Lembro que a economia norte americana continua a expandir-se de forma robusta, o mercado de trabalho continua apertado e a inflação continua acima da meta de 2%.
O balanço ajudou e continuará a ajudar a desacelerar a economia, uma vez que as taxas de juro mais elevadas durante mais tempo fazem a maior parte do trabalho pesado.
Funciona da seguinte forma: o Fed detém ativos como títulos do Tesouro, títulos garantidos por hipotecas e empréstimos concedidos a bancos. Também detém passivos como moeda, reservas bancárias e "acordos de recompra de reservas", que são contratos de curto prazo para vender títulos e depois comprá-los a um preço mais elevado.
Sempre que o Fed pretende estimular a economia, expande suas compras de títulos, uma estratégia conhecida como "flexibilização quantitativa". Fez isso para ajudar a economia a se recuperar da Grande Recessão, por exemplo, quando o Fed expandiu dramaticamente sua carteira de ativos de menos de um bilhão em 2007 para mais de 2 bilhões de dólares em 2009.
Nos primeiros dias da pandemia de Covid-19, o Fed também reforçou drasticamente sua carteira de ativos, comprando espantosos 1,5 trilhões de dólares em títulos do Tesouro em março e abril de 2020 para estabilizar o sistema financeiro e amortecer os efeitos dos encerramentos na economia. Continuou a adquirir centenas de bilhões em títulos públicos ao longo de 2020.
Há mais de um ano, o Fed vem constantemente reduzindo seu balanço para ajudar a esfriar a economia. Essa redução é conhecida como "aperto quantitativo".
O balanço atualmente está em cerca de 7,9 trilhões de dólares, abaixo do seu pico de 9 trilhões de dólares no início de 2022. Desempenha um papel crucial na retirada do estímulo da política monetária, operando em segundo plano, enquanto as taxas dos fundos federais servem como nossa principal ferramenta ativa.
Alguns agentes de mercado preveem que, devido a uma possível recessão no próximo ano, o Fed poderá interromper o aperto quantitativo por volta do final de 2024, deixando o balanço em cerca de 7,2 trilhões de dólares. Isso pode mudar a depender dos dados de atividade, claro.
O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em entrevista coletiva após a decisão política do banco central em julho que o aperto quantitativo poderia continuar mesmo durante cortes nas taxas de juros. Isso permitiria ao Banco Central tentar retornar o balanço aproximadamente ao seu tamanho de equilíbrio.
Apesar dos sinais dos membros do Fed indicarem uma baixa probabilidade de outro ajuste nas taxas de juros de curto prazo, o ritmo robusto da economia, o mercado de trabalho apertado e sinais menos encorajadores de inflação na margem indicam que o ajuste monetário ainda não está completo.
Vejo como provável a manutenção da taxa neste encontro, deixando a possibilidade de um novo aumento, ao mesmo tempo explicitando a continuidade do “aperto quantitativo”.
Os passos futuros dependerão dos dados econômicos. Se a atividade enfraquecer neste último trimestre, poderá haver uma sinalização menos contracionista em dezembro, o que aliviaria os mercados, que estão sob pressão devido à incerteza macroeconômica.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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