“Tudo indica que os dividendos do segundo trimestre já ocorram sob a nova política. Já devem ocorrer com base na nova regra”.
Essas foram as palavras de Sergio Caetano Leite, o diretor financeiro da Petrobras, em recente entrevista.
Isso, caro leitor, significa queda nos dividendos distribuídos pela petroleira. Depois de anos pagando quantias vultuosas aos seus acionistas, a Petrobras deve começar a reduzir o montante distribuído a partir da divulgação de resultados do segundo trimestre de 2023.
E agora? Será que ainda é uma boa investir na empresa?
Os últimos anos da Petrobras foram ótimos para os acionistas. A companhia decidiu se desfazer de ativos pouco rentáveis e passou a focar mais no segmento de Exploração e Produção de petróleo.
Ou seja, ela não só gerava caixa vendendo ativos ruins como a sua operação surfou os melhores preços da commodity dos últimos anos. O resultado dessa combinação foi uma geração de caixa esplendorosa que proporcionou o pagamento de generosos dividendos.
A Petrobras foi, com muita folga, a maior pagadora de dividendos da Bolsa brasileira nos últimos 12 meses. Foram mais de R$ 200 bilhões distribuídos para os acionistas, o que inclusive explica boa parte da alta de 67% de sua ação PETR4 no período.
No entanto, as coisas devem mudar a partir de agora. Para começar, a queda da cotação do petróleo no mercado internacional atrapalha a receita e a margem da companhia. Inclusive, entre analistas de mercado existe um consenso a espera de queda de 40% no Ebitda e de 50% no lucro no segundo trimestre deste ano.
Como você deve saber, lucros menores também significam menos dividendos para distribuir, o que já não seria tão bom para os acionistas. Mas os problemas vão além.
A nova (velha) política
Depois de um período vendendo ativos ruins e investindo praticamente tudo o que podia no pré-sal, a nova gestão deve fazer com que a Petrobras retome velhos hábitos que acabaram atrapalhando a companhia na década passada.
O discurso pode até ser bonito e conquistar votos, mas a verdade é que, para os acionistas, não faz muito sentido que a Petrobras invista em ativos de geração eólica, fertilizantes, petroquímicos etc.
Primeiro porque ela não tem nenhum diferencial competitivo nesses segmentos e provavelmente teria retornos melhores investindo o dinheiro em Tesouro Selic.
Segundo porque ela possui alguns dos melhores ativos de Exploração e Produção do mundo, de onde consegue extrair muito petróleo com custos baixos e retornos muito atrativos.
Mas quem decide a estratégia de investimento não sou eu, e como o avanço da Petrobras nessas novas frentes vai demandar maiores investimentos, isso certamente também implicará em menos dividendos para os acionistas.
Nos últimos anos, a geração de caixa da Petrobras foi tamanha que os dividendos superaram o lucro líquido (ou seja, o payout foi maior do que 100%).
Fonte: Bloomberg
Ou seja, se você parar para analisar friamente, mesmo reduzindo os dividendos, a Petrobras ainda tem potencial para continuar a ser uma boa pagadora de dividendo na Bolsa. A questão é tentar entender em quanto esses dividendos serão reduzidos.
O grande medo do mercado é que o governo invista tanto em outros segmentos que o payout caia para o mínimo exigido por lei (25%). Seria exagero?
É bom lembrar que apesar das críticas, o governo federal por deter mais de 50% das ações, está entre os maiores beneficiários dos resultados financeiros da empresa. Ainda por conta de seus problemas fiscais existe uma necessidade do próprio governo de receber dividendos.
No mais, a companhia precisaria alocar muito dinheiro em outros setores – estamos falando de um fluxo de caixa livre de mais de R$ 120 bilhões só em 2023, haja criatividade.
O fato é que depois de pagar mais de R$ 200 bilhões em dividendos em 2022, a expectativa é que esse número caia pela metade em 2023, por conta dos fatores mencionados.
Mesmo assim, estamos falando de um dividend yield de mais de 20%, um dos melhores da bolsa brasileira. Ou seja, ainda que os dividendos caiam bastante na comparação com os anos anteriores, a Petrobras ainda tem potencial de ser uma boa pagadora de proventos.
Frisando sempre o risco governamental, é preciso acompanhar de perto os próximos movimentos da estatal. Pode fazer sentido para o investidor que tem foco em dividendos.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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