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O vento da mudança: Entenda como deve começar o ciclo de queda dos juros no Brasil


  • Olhar Econômico
  • 21 de Junho de 2023 | 08h11
 Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Hoje temos a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A novidade da vez não estará na decisão dos juros em si, mas no comunicado. Na verdade, podemos estar diante de um ponto de inflexão importante no Brasil, no qual começará uma flexibilização da política monetária — primeiro por meio do tom do comunicado e, posteriormente, com a queda da Selic efetivamente.

Desde o último encontro, bastante coisa aconteceu, em especial com as expectativas para o país. Não que estejamos super construtivos com as coisas e que o Brasil deva virar uma Suíça. Não é disso que tratarei aqui. Mas talvez a situação não acabe sendo tão ruim como pensado.

Primeiramente, as perspectivas para a economia brasileira estão melhores. Podemos observar semanalmente no Relatório Focus do Banco Central, conforme abaixo.

Fonte: BCB

No boletim desta semana tivemos várias alterações significativas, resultando em melhorias gerais. A expectativa para o IPCA (índice de inflação) foi reduzida, indicando uma perspectiva mais favorável em relação à estabilidade dos preços em 2023.

Para melhorar, houve um aumento na estimativa para o crescimento do PIB deste ano, para 2,14%, sinalizando um otimismo em relação ao desempenho da economia.

Além disso, a projeção para o dólar foi revisada para baixo, de R$ 5,10 para R$ 5,00 (valorização da moeda brasileira).

Adicionalmente, a projeção de inflação de longo prazo foi reduzida para no máximo 4% (2024).

Esses fatores apontam para uma possível mudança no discurso da autoridade monetária, indicando que os cortes de juros podem começar no segundo semestre, conforme já comento aqui há algum tempo.

Caminhamos rapidamente de um país com menos de 1% de crescimento do PIB e mais de 7% de inflação para um com mais de 2% de crescimento de menos de 5% de inflação.

Melhora na expectativa e o mercado procurando uma antecipação geraram desdobramentos notáveis, tanto para a curva de juros, como para as ações, com o Ibovespa de volta aos 120 mil pontos.

O movimento foi referendado na semana passada pela própria agência de rating (avaliação de risco) Standard and Poor's (S&P), que melhorou a perspectiva para a economia brasileira de neutra para positiva.

Ainda que possamos ter infinitas críticas a eles, a sinalização é importante, especialmente para o investidor estrangeiro, colocando o Brasil em uma trajetória para recuperar o famoso grau de investimento, perdido durante a gestão de Dilma Rousseff.

O que devemos esperar a partir de agora?

Com as novas informações, diante da tramitação do arcabouço fiscal, da ancoragem das expectativas, da pacificação das discussões fiscais e da desaceleração da inflação, o Banco Central tem argumentos para dar início ao ciclo de flexibilização.

Desta forma, meu entendimento é de que haverá manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano nesta reunião de junho, mas haverá uma suavização no tom do comunicado, abrindo espaço para queda dos juros em agosto.

Aliás, sobre a inflação, o anúncio de uma nova redução no preço da gasolina, a segunda em menos de um mês, alimenta a expectativa de deflação no IPCA de junho e reforça a necessidade de um novo ciclo de política monetária.

Sem falar que podemos ver mais descompressão da inflação por importação com o dólar caminhando para mais próximo de R$ 4,50 (o fator psicológico e a perspectiva da S&P ajudam neste sentido), no sentido que mais dólares entrarão no país.

Todo o contexto é permissivo para início de queda dos juros. Caso não seja em agosto (minha opinião), definitivamente em setembro.

Vemos inclusive os analistas de mercado começarem a ficar mais confortáveis em projetar menos juros para 2023, indicando até mesmo a chance de encerrarmos o ano em algo como 12,25% de Selic ao ano, o que seria um avanço interessante dos 13,75% atuais.

Lembro que teremos mais quatro reuniões no calendário do Copom no segundo semestre.

Para somar o bom momento, existe a percepção de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) manterá inalterada a meta de inflação em 3% na reunião da próxima semana, o que também traz segurança ao mercado para continuar reduzindo as estimativas inflacionárias.

É verdade que se discute uma alteração na forma de apuração da meta, passando de uma abordagem anual para uma apuração contínua. Grosso modo, se implementadas com cuidado, essas mudanças podem trazer benefícios adicionais ao regime de metas.

A decisão do CMN terá um impacto significativo na formação das expectativas de inflação e, consequentemente, na condução da política monetária.

Isso evidencia a importância da reunião que ocorrerá no final deste mês, para além da reunião do Copom de hoje. Os ativos de risco devem responder bem a todo o processo, assim como fizeram até aqui. A ver.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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