As últimas semanas foram positivas para as projeções sobre a economia brasileira. Mais recentemente, foi a prévia da inflação oficial de maio, o IPCA-15 do IBGE, que animou os investidores. O índice apresentou uma alta de 0,51% no mês, abaixo das expectativas, que apontava para uma alta de 0,65% no período.
Não foi só na comparação mensal que tivemos uma desaceleração. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,12% e, em 12 meses, de 4,07%, abaixo dos 4,16% registrados nos 12 meses finalizados em abril. Se há menos inflação, temos como consequência menos juros também.
A perspectiva de inflação e juros mais baixos impulsiona setores como consumo, construção civil e bancos no Ibovespa.
Mais do que a simples desaceleração, o dado foi mais saudável também. O núcleo, que exclui os itens mais voláteis, como combustíveis e alimentos, desacelerou de 0,45% em abril para 0,42% em maio.
No mês em análise, os grupos de "saúde e cuidados pessoais" e "alimentação e bebidas", tiveram impacto mais significativo no índice. Cada um desses grupos contribuiu com 0,20 pontos percentuais para o dado geral. Logo em seguida, o grupo de "habitação" contribuiu com 0,07 pontos percentuais.
Dois grupos registraram quedas nos preços - "artigos de residência" e "transportes".
Afinal, o que isso quer dizer?
A leitura que faço é de que a maior parte do impacto na inflação foi impulsionada por itens voláteis ou regulamentados, como combustíveis e passagens aéreas, e houve uma desaceleração nos bens duráveis.
Resumidamente, a divulgação dos dados mostrou surpresas em diversos setores e como resultado, o mercado revisou as projeções de inflação para o IPCA de 2023 de 5,8% para 5,7% no último Boletim Focus, enquanto a estimativa para 2024 foi mantida em 4,1%.
Abaixo podemos ver que a melhora nas expectativas para o IPCA acumulado nos respectivos anos tem sido considerável mais recentemente.
Fonte(s): BCB
Nesta tocada, não vai demorar muito para que comecem a projetar uma inflação abaixo de 5,5% em 2023.
É uma verdade que a situação ainda é preocupante (as medidas centrais seguem muito acima da meta de inflação em 3,75%); contudo, a trajetória é positiva — existe progresso na formação de expectativas de inflação no longo prazo, apesar de ainda elevadas devido as incertezas fiscais.
Sem dúvidas, o novo arcabouço fiscal tem ajudado nesse processo. Tenho dito a clientes e amigos que o projeto enviado pelo governo e recém aprovado pela câmara não é o melhor, porém é melhor que nada. Precisamos ser pragmáticos. Agora o texto seguiu para o Senado.
Lembro que a nova política de preços dos combustíveis da Petrobras, poderá trazer nos próximos meses um impacto adicional na queda da inflação para o primeiro semestre - em caso de redução dos valores - além de suavizar a alta a partir do segundo semestre.
Vale lembrar também que os preços devem voltar a acelerar no acumulado de 12 meses a partir da segunda metade do ano por causa da base de comparação, mas a média tende a continuar em queda.
Meu palpite é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá a taxa Selic no nível atual de 13,75% em sua próxima reunião em junho, porém abrirá discussões sobre possíveis cortes em breve, muito provavelmente no terceiro trimestre, em agosto ou setembro. Será um começo de flexibilização importante para a política monetária.
E o rali...
Pouco importa o mês de início do ciclo de cortes. O que importa é a tendência de queda dos juros, que impulsiona os ativos de risco, como aconteceu entre 2016 e 2019, no último grande bull market (mercado de alta) brasileiro.
Essa tendência pode ser observada até mesmo no otimismo do presidente do Banco Central. Segundo Roberto Campos Neto, pela primeira vez, a inflação está em queda no Brasil, enquanto nos países comparáveis ela se mantém estável em níveis mais elevados. Nesse sentido, o IPCA-15 apresentou resultados positivos, com uma surpresa significativa em serviços.
Embora a desinflação esteja ocorrendo de forma mais lenta do que o desejado, observo fatores positivos em perspectiva.
A queda dos juros se dará de forma gradual, sim, mas para o mercado o que interessa é a trajetória. Claro, quanto maior for a amplitude do ajuste nos juros, maior poderá ser o efeito. Ainda assim, diante dos valuations atuais, poucas variações já podem resultar em grandes valorizações na bolsa. A ver.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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