A realidade pós-pandêmica nos impactou tremendamente em diferentes sentidos, sendo o mais destacado deles a inflação, que demandou uma postura contracionista de diferentes autoridades monetárias ao redor do mundo.
Como consequência, há um grande temor de que estejamos nos aproximando de uma recessão, uma vez que as condições financeiras estão cada vez mais restritivas.
Caminhar para uma crise não seria o problema, a dificuldade está em saber o início dela, bem como sua profundidade e duração. Aqui reside a grande interrogação.
Em momentos de incertezas, os investidores costumam recorrer ao que chamamos de "safe havens" (portos seguros, em tradução livre) tradicionais, dos quais chamou a atenção o ouro de novembro do ano passado para cá.
Antes, vale a pena recapitular um pouco. Os preços do ouro têm estado voláteis, com vários eventos e fatores influenciando seus movimentos.
No ano de 2020, os preços do ouro experimentaram uma alta acentuada à medida que os investidores buscavam ativos portos-seguros em meio ao surto da pandemia de Covid-19.
Em 2021, preocupações com a inflação e mudanças na política monetária do Federal Reserve dos EUA alteraram o comportamento do ouro. Com a pressão, os preços do ouro atingiram patamares menores.
Por fim, em 2022, a coisas se complicaram bastante. Ocorre que normalmente, o ouro tem uma relação íntima com o yield (taxa de rendimento) das Treasuries americanas (título do Tesouro dos EUA) e com o dólar. Quando a taxa sobe ou o dólar se fortalece, o ouro se enfraquece. O contrário também é verdadeiro.
Bem, no ano passado, as duas coisas aconteceram. O Federal Reserve começou a subir os juros, o que fortaleceu o dólar. Assim, o ouro perdeu atratividade relativa.
Contudo, as coisas mudaram bastante de dezembro para cá. O medo de uma recessão, a expectativa pelo fim do aperto monetário nos EUA e a recente crise dos bancos estrangeiros provocaram um novo movimento de compra do metal precioso, que voltou a flertar com patamares próximos de US$ 2.000 por onça.
Em outras palavras, o ouro recuperou o ímpeto de alta após uma queda do Índice do Dólar (mede a força da moeda americana), que coloca a moeda dos EUA contra uma cesta de seis principais concorrentes que incluem o euro e o iene.
Paralelamente, o Federal Reserve elevou os juros em mais 0,25 ponto, como esperado em sua reunião de março, reiterando seu compromisso de reduzir a inflação e não cortar as taxas pelo menos neste ano.
Entretanto, após a crise bancária dos EUA que abalou os mercados financeiros, o banco central americano também sugeriu uma possível pausa em seu ciclo de alta, provocando especulações.
É bom lembrar que o Fed aumentou a taxa de juros nove vezes nos últimos 12 meses. Uma pausa nas elevações pode significar um momento de maior fragilidade para o dólar e ser extremamente positivo para o ouro.
O metal parece posicionado para encontrar uma casa acima do nível de US$ 2.000 por onça. Uma corrida neste sentido não está tão longe e pode acontecer se as preocupações com a estabilidade financeira não diminuírem.
Fonte: Trading Economics
Que tipo de impacto eventuais novas crises bancárias teriam na economia e como isso pode influenciar as decisões sobre as taxas de juros? Provavelmente menor crescimento e inflação.
Autoridades dos EUA e da Europa recentemente alertaram que o setor bancário estava sendo monitorado de perto quanto a qualquer sinal de uma possível crise de crédito.
As ações do Deutsche Bank chegaram a despencar no último mês, depois que o CDS (seguro contra calote para credores) do banco disparou para perto da máxima em cinco anos.
Ocorre que os mercados estão temerosos com o colapso de qualquer banco europeu depois que o Credit Suisse foi adquirido pelo UBS em um acordo de emergência intermediado por reguladores.
Na medida que os temores aumentaram as apostas de menos aperto nas políticas monetárias neste ano, é provável que o ouro permaneça sustentado.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
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