Como todo início de ano, começam a circular relatórios de bancos, corretoras e casas independentes de análise com estratégias de investimento.
Saímos de um ano muito atípico para os investimentos de maneira geral. Nada se salvou.
Um bear market se instalou nas bolsas norte-americanas, com recuos superiores a 20%. Se você estava alocado em ações de tecnologia ou small caps, as perdas superaram 50% com facilidade. O tamanho do ajuste não foi brincadeira.
Os portos seguros clássicos também não funcionaram, com o ouro decepcionando como proteção (hedge) e o dólar não subindo contra o real, ferindo as carteiras de brasileiros com posições no exterior. A conta chegou, e de uma vez.
Lembro que havia uma taxa de juro zerada nos EUA, indo para próximo de 5%, num curto intervalo de tempo e foram corrigidos os excessos de anos de juros muito baixos e muita liquidez, com a enormidade da resposta de política econômica dada na pandemia.
Tentar antecipar o futuro é um jogo duro, em especial com tantos ruídos políticos e geopolíticos no radar. Mais do que nunca, é preciso estar atento aos riscos que nos cercam, mesmo que conseguindo avaliar apenas o que já é possível mapear minimamente (nos primeiros dias de 2022, poucos colocavam como risco a invasão da Ucrânia).
Por isso, fugindo um pouco do contexto geopolítico, separei o que para mim é o conjunto dos três principais riscos que podem ser mapeados para 2023.
A situação fiscal brasileira
Começo com um vetor na agenda doméstica, derivado em grande parte da incerteza fiscal sobre as contas públicas, o que considero o calcanhar de Aquiles do Brasil na atualidade. A PEC da Transição e a falta de perspectiva sobre o próximo arcabouço fiscal proporcionam falta de visibilidade nesta frente.
Abaixo, o gráfico ilustra a trajetória da relação da Dívida Bruta sobre o PIB. Note que ela acelerou de maneira preocupante durante o governo Dilma até ser contida pelo Teto de Gastos. Avançou novamente durante a pandemia, mas foi rapidamente normalizada. O problema fica agora para os próximos anos.
Fontes: BTG e Banco Central do Brasil (BCB).
A depender do que for gerado de gasto adicional sem contrapartida, podemos caminhar para um patamar insustentável de endividamento. Provavelmente, o ano de 2023 será inundado de discussão fiscal relacionando a Reforma Tributária com a Nova Regra Fiscal, que ficará no lugar do teto de gastos.
Debates fiscais costumam penalizar os ativos locais por conta do estresse gerado sobre a curva de juros. Portanto, se a trajetória da dívida não for minimamente aceitável, podemos caminhar em uma direção sem volta, perdendo cada vez mais a credibilidade do país como bom pagador.
A inflação, os juros e a possibilidade de uma recessão global
Ao redor do mundo, a inflação começou a ser normalizada, mas continua elevada. Em outras palavras, o problema com a ideia de que os juros logo cairão é que a inflação tende a ser mais teimosa e ficar por mais tempo. Quanto mais ela ficar elevada, mais tempo ficaremos com juros mais altos, até que os preços estabilizem.
Se os juros ficarem elevados por muito mais tempo, a recessão virá com mais força. Uma queda muito forte da economia ainda não parece estar nos preços. Consequentemente, quanto pior for o desempenho da economia nesta nova etapa do ciclo econômico, pior será para os ativos de risco.
Uma ótica mais pessimista sobre a reabertura chinesa
Por fim, a China importa muito para 2023. A reabertura do gigante asiático nas últimas semanas, após as paralisações por conta da covid, restaurou a confiança no mundo emergente. A última grande recuperação dos mercados emergentes ocorreu quando a China cresceu nos anos após sua adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001. Uma China fortalecida ajuda o mundo.
Por outro lado, se a China realmente se abrir com pleno vigor, poderia estimular a demanda por commodities e, no processo, aumentar a pressão sobre a inflação. Uma reabertura da China, com base nisso, poderia manter a economia funcionando acima dos níveis de recessão por mais tempo, ao mesmo tempo em que eleva os preços a uma taxa que obriga os bancos centrais atuantes.
Isso prejudicaria o entendimento de que a inflação está finalmente no ponto em que cairá sem muito mais ajuda da política monetária. Uma reabertura chinesa com muita força, porém, poderá segurar os preços em patamares mais elevados por mais tempo, forçando mais juros sobre as economias e, consequentemente, gerando uma recessão.
Os próximos passos devem ser dados com bastante cautela. Não estamos em um momento trivial. Realmente, a oportunidade é grande, mas só porque o risco também é.
A incerteza fiscal, a recessão global e a teimosia inflacionária estão em nosso caminho. Se estivermos preparados com bastante caixa neste período, porém, poderemos provavelmente atravessar a tormenta de forma bastante satisfatória.
Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.
18 | Juro sozinho não será suficiente |
11 | Os juros subirão ainda mais? |
4 | A realidade se impõe |
27 | Aluguel sem fiador ou seguro-fiança? Conheça o TD Garantia |
13 | A ótica dos dividendos |
6 | Caminhos opostos |
25 | Corte de juros nos EUA é benéfico, mas não resolve tudo |
18 | O que esperar de mais uma Super Quarta? |
11 | Depois da farra sempre vem alguma ressaca |
4 | A ilusão da notícia |
28 | Perspectivas para as taxas de juros |
21 | Recorde no Ibovespa |
14 | Um novo paradigma a caminho? |
7 | Pânico nos mercados globais. Existe razão para tamanha histeria? |
31 | Agronegócio é alternativa para investidores |
24 | Economia brasileira com crescimento sustentável ou voo de galinha? |
10 | Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos |
3 | Segunda metade do ano |
26 | Bolsa tem boas oportunidades para os pacientes |
19 | Conservadorismo necessário |
12 | Juros e inflação nos EUA definirão rumo dos mercados no curto prazo |
5 | Nosso dilema do prisioneiro |
29 | Como a desancoragem das expectativas atrapalha a queda dos juros no Brasil |
22 | Debêntures incentivadas em evidência |
15 | Bolsa barata basta? |
8 | Conservadorismo e cautela |
1 | O mal não falado |
27 | Não chegue no fim da festa |
20 | Super Quarta quente |
13 | Reserva de valor: até onde vão o ouro e o bitcoin? |
6 | Petrobras e seu recorde de valor de mercado |
28 | Petróleo: a principal commodity |
21 | Investimentos inteligentes: planeje sua viagem dos sonhos |
7 | Como vencer o medo de investir? |
31 | Aquela velha roupa vermelha |
24 | 2024 é ano de eleições. A mais importante não será no Brasil |
17 | Commodities em baixa |
10 | Ressaca pós-virada? |
20 | Dicas para controlar os gastos de fim de ano |
13 | Última Super Quarta do ano |
6 | Lições valiosas de Charlie Munger |
26 | Comprar imóvel ou investir em fundos imobiliários? |
19 | Em busca de um porto seguro |
12 | Mais pra cá do que pra lá |
5 | Como investir com foco no longo prazo no Brasil? |
15 | Como saber se uma ação está cara ou barata? |
8 | Investir é um teste de resiliência |
1 | Semana dos Bancos Centrais |
25 | A histeria do “peso-real” e por que a moeda comum não deve sair do papel |
18 | Os prós e os contras do pacote fiscal de Haddad |
11 | O ataque a Brasília e a reação do mercado |
21 | Renda fixa segue como “queridinha” em 2023 |
14 | Menino ou adulto Haddad? |
7 | Fuja dos golpes: não se deixe levar por promessas de dinheiro fácil |
26 | Benefícios do planejamento sucessório: conheça mais! |
19 | Quais os riscos de investir em FIIs? |
13 | Viver de renda? Confira o passo-a-passo para chegar lá! |
31 | Contra o consenso |
24 | BTG lança plataforma cripto |
17 | Preparado para as propagandas eleitorais? |
10 | Um pouco de previsibilidade |
3 | Preparados para o mês de agosto? |
27 | A proteção ficou mais cara, mas continua essencial |
20 | Fundos imobiliários X Imóveis |
13 | Renda fixa continua atraente. Mas e a bolsa? |
6 | Cenário macro para 2º semestre |
25 | Uma boa notícia para os fundos imobiliários |
18 | O médico e o monstro |
11 | O fim da era do dinheiro de graça |
4 | A maré baixa mostrará quem está nadando pelado |
27 | Todos os caminhos levam à inflação |
20 | O alerta vem da China, "de novo" |
13 | Insurtechs? Esse seguro está diferente |
6 | Consórcio é mais vantajoso que outras aplicações financeiras? |
30 | Irmãos a obra: análise de balanços |
23 | Com qual frequência você muda de opinião? |
15 | A Super-Quarta |
9 | Mulheres: com toda crise, uma oportunidade |
2 | Investindo em tempos de guerra |
23 | A sorte está lançada |
16 | Value investing is back |
9 | Mudanças e algumas tensões no ar |
2 | A política monetária brasileira sob os holofotes |
26 | NF Notícias estreia coluna de economia com Paulo Nascimento Filho |
Seja o Primeiro a Comentar
Comentar