PREFEITURA DE CAM?POS - DENGUE

Um olho no gato, outro no peixe


  • Olhar Econômico
  • 09 de Novembro de 2022 | 07h53

Fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo é uma exigência cada vez maior nos dias de hoje. Os investidores brasileiros têm pouca alternativa nesta semana a não ser ficar com as atenções divididas.

De um lado, os eleitores norte-americanos foram às urnas ontem para as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, chamadas de midterms pela mídia do país. Por aqui, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva prepara-se para o momento mais importante da transição de governo até agora.

As atenções dos investidores locais estão voltadas para qual será o desenho da PEC de Transição, em outras palavras, a saída escolhida por Lula para já em seu primeiro ano de governo, elevar os valores do salário-mínimo e do Auxílio Brasil, que deve voltar a se chamar Bolsa Família em 2023 - suas promessas de campanha. Pesa o já delicado cenário fiscal, com as apostas cada vez mais altas sobre qual será o tamanho do cheque que o governo terá para gastar no próximo ano.

Ontem, em coletiva na sede do governo de transição, o vice-presidente eleito e coordenador da equipe, Geraldo Alckmin, anunciou algum dos nomes responsáveis pelas áreas técnicas.

Gleisi Hoffman, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), coordenará o gabinete político.

O grupo de assistência social será de Simone Tebet, Marcia Lopes, Teresa Campello e André Quintão.

Já o núcleo de economia, aguardado pelo mercado, será composto por Lara Resende e Pérsio Arida, “pais” do Plano Real, Guilherme Mello, economista da campanha, e Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rouseff. O vice-presidente eleito ainda reforçou que os nomes de diferentes vertentes no campo da economia não são visões opostas, mas sim complementares.

Na segunda, o dólar voltou a subir frente ao real e interrompeu a seqüência de queda. O movimento de correção local parece ocorrer com o mercado reprovando o nome de Fernando Haddad, que ganhou força para assumir o Ministério da Fazenda.

Fato é que os norte-americanos renovaram ontem toda a Câmara dos Representantes - equivalente a nossa Câmara dos Deputados - e parte do Senado. Diante da estreita maioria parlamentar do presidente Joe Biden, o resultado das eleições de meio de mandato de 2022 serão decisivas para os últimos dois anos do governo.

Uma eventual vitória do Partido Democrata dará fôlego para que Biden continue tentando dar uma identidade a seu combalido governo. Segundo as pesquisas de intenção de voto, porém, o mais provável é que o Partido Republicano consiga maioria em pelo menos uma das casas do Congresso.

Entre 2021 e 2022, muita coisa aconteceu e seria natural entender um eleitor americano descontente. Desde a escalada da inflação até a sensação de vulnerabilidade internacional (Afeganistão e Ucrânia), muitos são os argumentos dos quais os republicanos estão se valendo nestas eleições. Se de fato chegarem a conquistar pelo menos a Câmara dos Representantes, provavelmente veremos mais impasses, o que o mercado geralmente costuma gostar (tocar o país de lado, sem dor de cabeça ou novidades elaboradas).

Aumentos de impostos seriam contidos nos próximos dois anos, ajudando os lucros empresariais (republicanos são menos propensos a aprovar um imposto inesperado sobre os lucros das empresas petrolíferas e não são a favor de aumentos de impostos sobre os ricos).

Por outro lado, democratas e republicanos parecem estar na mesma página quando se trata de aumentar os gastos com infraestrutura, o que poderia dar um impulso às empresas de serviços públicos, construtoras e algumas ações imobiliárias. Em meio aos temores de recessão, tais iniciativas são importantes.

No fim das contas, porém, as manchetes políticas geralmente são apenas barulho, uma vez que os investidores, na média, são péssimos intérpretes de movimentos políticos.

As eleições intermediárias também podem ficar em segundo plano em relação a outras questões macro, como o crescimento econômico, os lucros corporativos, a inflação e as taxas de juros, que deveriam importar mais para os investidores a longo prazo.

Sobre a inflação, inclusive, o resultado das eleições de meio de mandato pode ser influenciado por algo sobre o qual o governo tem pouco controle por lá: o custo de abastecer o carro com gasolina. Desde a década de 1970, os índices de aprovação presidencial tendem a cair quando os preços da gasolina sobem. O clima não é bom para Biden.

Ainda assim, considerando o contexto polarizado, os questionamentos eleitorais e a possibilidade de volta de Trump, é possível que os resultados das eleições possam levar a mais volatilidade no curto prazo, mesmo sabendo que o mercado sempre se antecipa e talvez já tenha precificado um governo dividido.

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