Seguimos acompanhando a alta dos ativos na bolsa, animados com o fluxo de capital estrangeiro neste início de segundo semestre. Em sua volatilidade, o dólar vem refletindo a tensão com o período eleitoral e com a chance do exterior estar vivendo apenas um "bear market rally".
Os prêmios embutidos com a PEC dos Benefícios vem sendo reduzidos diariamente de nossa curva de juros, apesar do temor fiscal ainda servir de pano de fundo e dos investidores poderem voltar a fugir do país em caso de algum tipo de ruptura institucional passadas as eleições nacionais — o fim do ciclo de alta da Selic e a queda dos preços dos combustíveis também ajudam na remoção dos prêmios sobre a curva.
A partir de agora, com a proximidade do pleito eleitoral, cada vez mais o noticiário político estará em evidência. Nesta semana iniciaram-se as campanhas, com propagandas, comícios e passeatas — só faltará rádio e TV, que virão na sequência. Paralelamente, ontem o ministro Alexandre de Moraes assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Escrevo as próximas palavras com cautela adicional para evitar discussões vazias, desnecessárias e impertinentes. Ou seja, este texto não tem qualquer pretensão político-partidária, tampouco vislumbra antecipar o resultado das eleições.
Historicamente no Brasil, uma eleição começa a ser precificada corretamente a partir do primeiro trimestre do ano eleitoral. Não foi o caso desta vez porque a discussão eleitoral foi antecipada no início do ano passado com a elegibilidade de Lula.
Primeiramente, entendo que ainda é prematura qualquer afirmação sobre o vencedor potencial, com o presidente Jair Bolsonaro sendo um nome competitivo, em especial depois das renúncias fiscais e dos pacotes de bondades recentes. As últimas pesquisas, acredite-se nelas ou não, mostraram Lula na liderança, com algo um pouco acima de 40%. Bolsonaro vem logo atrás, ganhando pontos há alguns meses e se mantendo entre 30% e 35%.
Sem entrar no mérito moral das duas candidaturas, uma avaliação fria mostra que, para o mercado, nenhuma das duas parece ser ruim para os investimentos. Para o mercado local e para as estatais, é possível que Bolsonaro seja um candidato mais razoável, enquanto Lula encantaria melhor o investidor internacional e as varejistas de baixa renda.
Como mencionei, os dois desfechos deveriam servir para destravar valor.
No caso de reeleição do presidente Bolsonaro, seria razoável supor algum abandono do modo eleitoral e retomada de uma agenda pró-negócios, com recuperação do discurso liberal — além disso, ao observarmos o passado, não há período melhor para a promoção de um ajuste fiscal do que o primeiro ano de um segundo mandato.
Já na eventual eleição do ex-presidente Lula, temos a possibilidade de um governo de centro. Seria plausível atribuir uma alta probabilidade de que seja seguido caminho semelhante a alguns governos latino-americanos de esquerda, como os da Colômbia, do México e do Chile, num modelo que possivelmente repetiria o governo Lula 1, com uma política mercadológica no ministério da Economia.
Em outras palavras, teríamos um interessante caminho para os ativos brasileiros. Há riscos? Sim, em especial dois:
i) da não convergência ao centro do candidato vitorioso, o que acarretaria mais populismo e menos responsabilidade fiscal; e
ii) a possibilidade de que, a partir de uma eventual vitória apertada, possamos ter contestação das eleições, movimentos de rua e atos de violência, como aconteceu nos EUA.
Dos cenários acima, entendo que o segundo geraria um ruído considerável. Até o fim do ano, aliás, com Bolsonaro se tornando cada vez mais competitivo e não arrefecendo tal discurso, essa possibilidade acaba aumentando, o que não sinto estar devidamente precificado pelo mercado. Em todo o lugar, eventuais questionamentos das instituições democráticas, ferindo a imagem internacional, penalizam os ativos de risco.
O investidor precisa estar preparado para semanas de volatilidade. Vai ter muito estresse até a eleição e, possivelmente, depois dela. Uma combinação entre caixa (CDB's com liquidez, Fundos DI e Tesouro Selic, por exemplo), ações locais e algumas proteções, como ouro e dólar, parece ser uma boa forma de se estruturar uma carteira. Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
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