A alta de juros no Brasil e no mundo vem beneficiando praticamente todos os ativos de renda fixa, frente aos ativos de risco. No primeiro semestre, todos os investimentos que terminaram o período no azul pertenciam a essa classe de ativos.
Para o segundo semestre, a renda fixa deverá continuar bem. Embora o ciclo de alta da taxa Selic no Brasil esteja terminando, no resto do mundo o aumento dos juros está só no início. Além disso, a inflação brasileira apenas começa a ser tratada, o que significa que, mesmo que parem de subir, os juros básicos ainda precisarão se manter elevados por algum tempo.
Mas em quais tipos de investimentos apostar? Analistas de mercado afirmam que praticamente tudo está interessante nessa classe de ativos. A taxa Selic está hoje em 13,25% ao ano, com perspectiva de terminar 2022 perto dos 14%. Assim, títulos públicos Tesouro Selic (LFT) e títulos emitidos por bancos, com garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e atrelados ao CDI, como CDBs, LCIs e LCAs - estes isentos de IR - continuam interessantes, entre as alternativas mais conservadoras.
Os ativos de crédito privado - títulos de dívida emitidos por empresas ou securitizadoras - também ajudam na rentabilidade da parte da carteira alocada em renda fixa. Debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e fundos que investem nesses papéis, embora mais arriscados, podem ainda ter um baixo risco de calote e pagar mais que títulos similares.
Durante a fase de juros baixíssimos no Brasil, a alternativa do investidor para obter melhores retornos na renda fixa era apostar justamente nos títulos de crédito privado, principalmente naqueles classificados como high yield - de maior risco e, por isso, maior retorno potencial. Entretanto, com a Selic nos patamares atuais, o investidor não precisa mais correr esse tipo de risco. Os chamados títulos high grade - aqueles com boas classificações de ratings, de bons pagadores e menor risco - já se encontram com rentabilidades bastante atrativas.
Na bolsa de valores, os três primeiros meses do ano, confundiram nossas cabeças. Os mais de R$ 60 bilhões de dinheiro estrangeiro que entraram no país entre janeiro e março descolaram o Ibovespa do resto do mundo — e fizeram diversas casas de análise revisarem suas estimativas. Mas, quando a conta enfim chegou, o resultado foi de fato negativo. Isso porque ninguém esperava que uma guerra se iniciaria no leste europeu — e que a inflação alta e persistente continuaria sendo uma preocupação grande, mesmo após a atuação dos bancos centrais para conter o quadro inflacionário.
Apesar disso, muitas empresas seguiram entregando resultados positivos e consistentes, o que, para os especialistas, deixou muitas companhias em um patamar atrativo de preço. O momento, porém, é de cautela. Até mesmo os principais bancos ainda estão em processo de revisão para as suas projeções, tentando digerir o cenário que se apresenta.
A certeza é que o segundo semestre será interessante para investidores pacientes, que olham para o longo prazo e não esperam ganhos elevados em apenas seis meses. Muitos acreditam que o período até o fim do ano deverá ser uma espécie de transição para o mercado. Passadas as eleições — e já com tempo suficiente para que o aperto monetário iniciado no ano passado impacte os indicadores de inflação — as oportunidades de investimento tendem a aumentar.
Apesar de muitos ativos se encontrarem em patamares atrativos de preço, as apostas para os próximos meses deverão seguir uma linha mais conservadora. Neste sentido não falar de commodities é quase impossível. Com grande peso no Ibovespa, as empresas do setor tendem a ditar o ritmo dos negócios locais.
No primeiro trimestre do ano, momento em que a alta dos preços do petróleo e do minério de ferro levou a busca dos investidores estrangeiros por uma fatia de empresas como a Vale (VALE3) e a Petrobras (PETR4). A injeção de dólares fez o Ibovespa subir mais de 15% no acumulado do ano.
A reversão da tendência vista nos últimos três meses coincide justamente com a piora das projeções para a economia chinesa. Em artigo no mês de abril, esta coluna tratou do alerta vindo do oriente, onde a adoção da política de “covid zero” fechou importantes centros comerciais e industriais. O temor de uma desaceleração e, consequentemente, uma demanda mais fraca, acabaram por pressionar os negócios.
Com a Petrobras envolvida em problemas políticos e por vezes preterida, restam poucas opções para os investidores surfarem a alta do petróleo, ainda que a commodity seja vista como mais previsível do que, por exemplo, o minério de ferro. A crise envolvendo a petroleira, aliás, deixou os especialistas mais receosos quanto ao investimento em ações estatais, tendo inclusive um artigo desta coluna abordando o tema logo no princípio de junho.
Para aqueles que ainda assim querem colocar commodities na carteira, empresas de papel e celulose e proteínas podem ser interessantes, já que possuem uma correlação maior com o dólar e podem servir de proteção.
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