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O dólar pode ser inesperado, mas é fundamental para proteger seu patrimônio


  • Olhar Econômico
  • 29 de Junho de 2022 | 06h45
 Foto: Reprodução/Internet
Foto: Reprodução/Internet

Poucos ativos são tão imprevisíveis quanto o dólar. Ao avaliar o relatório Focus (publicação do Banco Central com as estimativas do mercado) do começo de cada ano até 2021 com as projeções para o dólar ao final de 12 meses, vemos uma verdadeira competição de quem erra mais. Costuma-se brincar que o câmbio foi a invenção dos economistas para que os meteorologistas passassem menos vergonha.

Há um ponto interessante aqui, no entanto. A dificuldade de se prever suas variações deriva da composição das flutuações. A moeda está longe de possuir uma fórmula para prever seu valor. Afinal, são muitos os fatores responsáveis por mexer com a sua cotação. Ainda assim, seria possível estipular ao menos quatro pontos relevantes que costumam explicar as variações cambiais:

i) o risco país - famoso “Risco Brasil”, um fator que costuma pesar muito em grandes saltos e quedas da moeda, sendo definido pelo Credit Default Swap (CDS) de 5 anos (quanto maior o risco país, menos vale o real);

ii) a força do dólar - é a questão da ‘potência’ do país, isto é, quanto mais robusta for a economia americana ou mais atraente forem os investimentos nos EUA, mais valor teria o dólar no mundo;

iii) a força das commodities - basicamente varia de acordo com o ciclo destas mercadorias importantes para todos os atores mundiais. Quanto mais forte a época for para as commodities, mais se valorizam moedas relacionadas com as matérias-primas, como o real; e

iv) o diferencial de juros - a necessidade de um país pagar uma determinada taxa mais um seguro para ser interessante a ponto de segurar a moeda em seu território — quanto de juros real o Brasil paga acima dos EUA define esta função.

Cotado próximo de R$ 5,25 hoje, o dólar se comportou como uma verdadeira gangorra desde meados do ano passado. Do fim de junho até meados de dezembro de 2021, a moeda valorizou mais de 16% contra o real. O grande culpado desse movimento foi o risco país, que se deteriorou consideravelmente por conta do rompimento do teto de gastos.

Em 2022, entretanto, a lógica se inverteu. Até o início de abril, o dólar chegou a cair 20% contra a nossa moeda, tendo voltado a ganhar força internacionalmente nas últimas semanas — dólar forte no mundo (mais juros nos EUA), fraqueza das commodities e elevação do risco país.

Diante disso, vale a pena ter dólar hoje na carteira? A resposta é sim, principalmente para proteção. Pensando no longo prazo, especialistas recomendam manter 15% de posições estruturais em moeda estrangeira nas carteiras (hoje, vale a pena ter mais caixa em dólar lá fora, para quando o bear market acabar). No fim do dia, sempre será benéfico ao investidor diversificar seu portfólio em outras divisas e geografias, até para fugir das garras de Brasília.

Adicionalmente, existem pressões que podem gerar volatilidade nos próximos meses.

A primeira delas, de cunho internacional, se relaciona com as novas sanções do G7 sobre a Rússia, que voltou a engrossar o tom em sua invasão na Ucrânia. Desde o início do conflito, a Europa e os Estados Unidos proibiram a importação de petróleo russo para cortar uma fonte de receita do Kremlin. Contudo, o plano de causar dor econômica ao presidente Vladimir Putin, forçando-o a reconsiderar sua guerra, não funcionou como esperado. A Rússia está ganhando tanto dinheiro com as exportações de energia quanto antes da invasão (um aumento nas exportações para a Ásia ajudou a compensar grande parte dessas perdas).

Enquanto isso, a inflação elevada globalmente, aumenta a pressão política sobre chefes de Estado ocidentais, o que forçou os líderes das principais economias do G7 a considerarem uma nova rota: colocar tetos de preços no petróleo russo. Com preços máximos, os barris de petróleo russo teoricamente ainda poderiam chegar ao mercado global, evitando assim uma nova crise de oferta – mas Moscou não seria capaz de obter grandes lucros. O movimento gerará volatilidade nos preços internacionais das commodities, assim como vimos nas últimas semanas, o que terá impacto sobre a taxa cambial brasileira.

O segundo ponto, no âmbito doméstico, se relaciona com o fiscal brasileiro. As medidas recentes para conter a explosão de preços dos combustíveis terão um impacto fiscal de cerca de R$ 35 bilhões. Ainda, somadas à redução do PIS e Cofins sobre combustíveis prevista na Lei complementar 194, que deve ter impacto da ordem de R$ 15 bilhões, as medidas somam em torno de R$ 50 bilhões.

Um fiscal ainda mais deteriorado seria ruim para a percepção de risco doméstico, prejudicando o patamar do risco-país e depreciando nossa moeda. Ou seja, há espaço para bastante imprevisibilidade no câmbio.

Por isso, vale a pena ter dólar na carteira como proteção. Existem fundos cambiais com taxas reduzidas. Alternativamente, você também pode internacionalizar seus recursos por meio de corretoras no exterior.

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