Você sabe quem é Cláudio Castro? Provavelmente, sim. Mas e se eu fizesse essa pergunta há um ano? Ou nas eleições de 2018? Te digo que nem mesmo muitos jornalistas especializados na política fluminense sabiam de quem se tratava. Então vereador carioca, embarcou em uma aventura de ser vice na chapa do igualmente desconhecido Wilson Witzel em 2018 e acabou arrastado pela onda bolsonarista para dentro do Palácio Guanabara como vice-governador em uma eleição surpreendente.
Desde a derrocada de Witzel, Cláudio Castro tem demonstrado mais habilidade política do que o ex-juiz federal, é verdade. Até mesmo antes do processo de impeachment contra o governador eleito ter sido concluído, aliás. De acordo com notícia do jornal O Globo, Castro circulou nos corredores da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para conversar e negociar acordos com deputados antes da eminente saída de Wilson Witzel.
Cantor católico, Castro foi por muitos anos chefe de gabinete de Márcio Pacheco, então vereador do Rio de Janeiro e depois deputado estadual. Em um gesto, digamos assim, de retribuição, atuou fortemente para eleger o amigo para o cargo vitalício de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), atropelando a candidatura do também aliado Rosenverg Reis. É verdade que a escolha foi da Alerj, mas como o governador conseguiu tanta influência assim dentro da Casa em tão pouco tempo?
Com os acordos políticos prévios, citados pelo O Globo, Castro conseguiu montar uma verdadeira tropa de choque dentro da Alerj e, em troca, loteou o Governo do Estado com uma série de deputados que passaram a comandar várias secretarias. E um deles foi o campista Rodrigo Bacellar, que ascendeu em pouquíssimo tempo a um dos principais cargos dentro da estrutura governamental, o de secretário de Governo.
E não é difícil de entender a boa relação entre os dois. Afinal de contas, Bacellar foi o relator do processo de impeachment que colocou Castro como governador. Se ele circulava pelos corredores da Alerj neste período, certamente conheceu Rodrigo, que era o melhor amigo do presidente da Casa, André Ceciliano.
Como publicou a revista Istoé e outros meios de comunicação na época, a delação do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, que embasou o processo de impeachment de Witzel, também traz citações a Rodrigo Bacellar, André Ceciliano e o próprio Cláudio Castro. De acordo com o Ministério Público Federal, Edmar diz que Bacellar privilegiava municípios de seu reduto eleitoral para um suposto esquema de repasse de doações da Alerj onde deputados receberiam uma parte de volta.
Exatamente um ano após o vazamento da delação, Rodrigo foi nomeado como secretário de Governo, em 28 de maio de 2021 e passou a comandar uma imponente estrutura administrativa irrigada pelo dinheiro da concessão da Cedae.
Aliás, desde 2021, Cláudio Castro passou a nutrir o desejo de ser um governador eleito. Mas para virar realidade, deveria superar, antes de mais nada, a barreira do desconhecimento. Para isso, tem usado as gordas verbas recebidas pelo Estado com a concessão da Cedae para colocar na prática o chamado “Pacto RJ”, programa que tem levado inúmeros investimentos a vários municípios. Com as obras, quem também vai é Castro, que passou a desfilar pelas cidades em busca dos apoios de prefeitos e do reconhecimento da população.
A grande questão que fica é se existe algum planejamento pós-eleições para esse dinheiro que tem ajudado na promoção do governador. Uma hora ele acaba e o estado do Rio de Janeiro ainda está em Recuperação Fiscal.
O estado do Rio de Janeiro já teve experiências traumáticas de grandes alianças eleitorais e loteamento político do governo por deputados estaduais. Não é uma questão de criminalizar a coalização, mas de ficar de olho para que a história não se repita com novos personagens.
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