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É o ciclo de "juros" sem fim?


  • Olhar Econômico
  • 15 de Junho de 2022 | 06h29
 Foto: Divulgação
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Ainda precisamos sobreviver a mais um desafio antes de encerrarmos o primeiro semestre de 2022. A Super Quarta, dia em que contamos com o resultado das reuniões de política monetária do Brasil e dos EUA ocorre hoje.

Naturalmente, como já tenho abordado, a inflação e o processo de aperto monetário (contração de liquidez por parte dos Bancos Centrais) têm sido os principais temas de 2022 e devem continuar sendo. Na semana passada, o Brasil e os EUA reportaram seus respectivos índices de preços ao consumidor.

No caso brasileiro, diferentemente do que aconteceu com os americanos, a inflação recuou, mas ainda está em dois dígitos. Vai levar um tempo para que consigamos trazer de volta este índice para a meta do Conselho Monetário Nacional.

Uma coisa boa, porém, é que já estamos bem adiantados no processo de ajuste monetário a ser conduzido, o que nos permite sermos até mais comedidos em termos de reação ao que pode acontecer.

A inflação apesar do recente recuo, muito por conta dos preços de energia, que entraram na bandeira tarifária verde recentemente, ainda se encontra com patamares elevados com alta de 11,73% em 12 meses. Assim sendo, para combater este processo inflacionário, é consenso de que o Comitê de Política Monetária deverá elevar em mais 0,5% a taxa básica de juros, colocando a Selic em 13,25% ao ano. Este ajuste foi bem precificado pelo mercado desde o último encontro do Bacen.

A dúvida fica por conta do comunicado que acompanha a decisão. Aí é onde está o pulo do gato. Analistas apontam que o Banco Central tem toda a abertura para contratar mais uma alta para a próxima reunião marcada para agosto. Ele pode fazer isso desacelerando o tom, como fez da última vez, indicando mais um ajuste de menor magnitude, o que resultaria em uma alta da Selic de 25 pontos-base para 13,50% em agosto.

Ou ainda poderia deixar a janela aberta, considerando a incerteza do cenário doméstico (questão fiscal, eleitoral e dos combustíveis) e internacional (desaceleração global, risco de recessão, lockdown na China, quebra na cadeia de suprimentos, crise energética na Europa e guerra na Ucrânia). Neste caso, poderíamos ter mais um ajuste de mesma magnitude, encerrando o ciclo com Selic em 13,75% ao ano.

Nos EUA, por outro lado, o debate sobre o aperto monetário só está começando. No indicador de inflação apresentado na semana passada, os investidores se surpreenderam com preços que voltaram a acelerar na comparação anual para seu nível mais alto desde 1981, subindo 8,6% em relação ao ano anterior. Agora, há uma preocupação de que os EUA possam ver uma repetição da década de 1970, quando a taxa de inflação atingiu a média de 7,1% por uma década inteira, devastando as finanças domésticas e a economia.

As razões para o aumento dos preços são bem conhecidas: interrupções na cadeia de suprimentos por conta da pandemia de Covid-19 levaram à escassez de mercadorias. Além disso, a invasão da Ucrânia pela Rússia atingiu o fornecimento de commodities essenciais, enquanto, ao mesmo tempo, o governo canalizava trilhões de dólares em ajuda diretamente para consumidores e empresas.

Com isso, uma parte dos investidores voltou a esperar aumento levando a taxa de referência para a faixa entre 1,25% e 1,50% ao ano. A dúvida é quanto tempo durará esse doloroso surto de inflação alta e qual, se houver, será seu impacto duradouro. A discussão deverá ficar por conta do tom de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, na entrevista coletiva depois da apresentação.

Diante do contexto de maior pressão inflacionária, o dirigente da autoridade monetária poderá engrossar o tom, sinalizando apertos adicionais para os próximos meses. As correções nos últimos dias nas Bolsas globais refletem justamente a precificação deste movimento.

Adicionalmente, novos ajustes de mesma intensidade deverão ser contratados para as próximas reuniões. Surpresas negativas poderão pressionar ainda mais os mercados.

O mundo continuará a viver a tensão de uma realidade de mais inflação e juros mais altos. Uma desaceleração e, eventualmente, uma recessão são partes naturais deste ciclo que se encerra agora.

Não espere moleza nesta semana de feriado.

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