Organizar um casamento não é fácil. Mas, superada a burocracia da etapa civil e definidos os detalhes da festa para familiares e amigos, basta dizer “sim” e trocar os votos em frente ao celebrante que está firmado o matrimônio.
Já quando a união é entre empresas de capital aberto, o que já não era tão simples torna-se ainda mais complexo. Isso porque, além dos “noivos”, os conselhos de administração, os acionistas e os órgãos reguladores também precisam conceder sua bênção.
Um dos casamentos mais comentados deste ano na B3 – a bolsa de valores brasileira - será entre brMalls (BRML3) e Aliansce Sonae (ALSO3), pois dará origem à maior administradora de shoppings da América Latina.
Após um noivado turbulento, as companhias já deram o “sim” e receberam o sinal verde de seus respectivos conselhos de administração. Agora buscam a aprovação dos acionistas para seguir. A ampla expectativa é pela aprovação do negócio cuja proposta de combinação será discutida em assembleias gerais extraordinárias marcadas para hoje.
Vale relembrar que a Aliansce Sonae não era a única pretendente da brMalls. E, ciente de que era cobiçada, a noiva soube usar isso a seu favor e recusou as duas primeiras propostas de combinação de negócios. Oficialmente, a administração alegou que os termos oferecidos eram insuficientes e subavaliavam o valor da companhia.
Porém a Aliansce Sonae foi um pretendente insistente. Além de melhorar os termos financeiros duas vezes — a proposta aceita foi 17,2% maior do que a primeira oferta lançada pelo grupo no início do ano — a empresa buscou a união de outras formas e comprou ações da brMalls diretamente na B3. Assim, em conjunto com um fundo canadense, a Aliansce já é hoje a maior acionista individual da brMalls, com quase 11% do capital.
Segundo o acordo, todas as ações da brMalls serão incorporadas pela Aliansce. Os acionistas da primeira empresa serão donos de 55% da nova companhia. Mas, na prática, o controle acionário pode não valer de muita coisa na hora das decisões estratégicas. No novo conselho administrativo, formado por nove membros, quatro serão escolhidos pela Aliansce, dois pela brMalls e três serão membros independentes.
O primeiro e mais claro benefício deverá ser sentido na bolsa de valores. Estima-se que as companhias combinadas teriam cerca de R$ 13 bilhões de valor de mercado, o que deve aumentar a liquidez e a visibilidade dos papéis. Portanto, é esperado também valorização das ações. Outro ponto é que uma companhia de porte maior pode atrair determinados investidores que não olham para companhias menores. Logo, o movimento amplia também a capacidade de atrair novos acionistas.
De acordo com a apresentação da fusão elaborada pelo BTG Pactual, que fez a assessoria da transação do lado da Aliansce Sonae, a futura empresa será a campeã de liquidez no setor e terá os mais altos padrões de governança corporativa.
Vale destacar que, juntas, as duas administradoras operam 69 shopping centers pelo país. Os ativos foram responsáveis por um volume de vendas de R$ 30 bilhões em 2021. Com a reabertura total da economia neste ano, as perspectivas são ainda mais promissoras.
Outro potencial benefício para seus acionistas está nas sinergias previstas para a fusão. Segundo os cálculos divulgados, as economias financeiras já mapeadas chegam a R$ 210 milhões por ano. A Aliansce tem bastante propriedade para falar de economia graças ao histórico da operação com a Sonae. A fusão entre as duas, esta ocorrida em 2019, de fato trouxe benefícios financeiros de diversas fontes, sendo reconhecidamente positiva pelos analistas do mercado.
Um importante ponto para a eficiência da nova empresa é o ganho de poder de barganha tanto em relação aos fornecedores quanto aos lojistas.
Claro que existem, porém, dúvidas sobre quanto efetivamente conseguirão ganhar economia de escala no curto prazo considerando as despesas e custos intrínsecos a uma transação desse tamanho. A ver.
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