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O médico e o monstro


  • Olhar Econômico
  • 18 de Maio de 2022 | 07h53
 Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Dr. Kurt, um tranquilo e respeitado médico, não gosta de fortes emoções. Em sua carteira de investimentos: apenas ações sólidas, de grandes empresas — essa coisa de apostar no desconhecido não é para ele.

Mr. Jack, um misterioso homem, não quer saber de vida mansa: quando o assunto é bolsa, é tudo ou nada. A ordem é buscar o maior retorno possível, mesmo que os riscos sejam elevados.

Kurt e sua racionalidade olham para Jack com uma ponta de inveja. Ah, seria tão bom não ter essas preocupações, essa cautela — investir livremente, sem medo de perder e com a confiança de que tudo vai dar certo!

Jack e sua impulsividade, por sua vez, não tem vontade de ser Kurt: essas preocupações com lucro, métricas financeiras, isso tudo é uma prisão; bom mesmo é a adrenalina de investir num negócio jovem e promissor, em busca de um retorno estratosférico.

Mas, vejam vocês, o excêntrico Mr. Jack tem um discurso atraente, mas é capaz de virar um monstro quando as coisas não correm como o planejado. Juros altos, crise econômica, guerra, pandemia — o mundo não está favorável para quem aposta tudo no risco.

E, de perdas em perdas, Jack fica cada vez mais descontrolado — especialmente ao ver o quão sólidos estão os investimentos do Dr. Kurt. A vida chata dos aportes nas ações de valor, quem diria, está bem mais lucrativa que a sedutora estratégia dos papéis de crescimento.

Será mesmo que o médico e o monstro precisam ser antônimos? Não será possível encontrar um equilíbrio entre os dois extremos?

Ignaz Semmelweis foi um médico húngaro que virou chacota e acabou numa camisa de força por insistir na importância de se lavar as mãos. É claro que hoje é óbvio, mas não era em 1800. E Semmelweis, que insistiu nessa ideia "maluca", acabou mal. Ele morreu pouco depois de ser internado e espancado por insistir nessa "ideia absurda".

Mas não é só na comunidade médica que coisas desse tipo acontecem. Às vezes, conclusões óbvias no mundo dos investimentos e que fazem todo o sentido acabam virando motivo de estranhamento e até chacota dependendo do contexto de mercado.

Todo investidor preocupado em ter retornos saudáveis no longo prazo deveria comprar ações de empresas lucrativas, com boa rentabilidade, solidez financeira, que pagam bons dividendos e negociam por múltiplos descontados – conhecidas como ações de valor.

Foi assim que Warren Buffett - o oráculo de Omaha - e os principais investidores do mundo atingiram retornos tão absurdos ao longo de suas carreiras.

O problema é que, com juros no chão e dinheiro de sobra na mão dos investidores para correr atrás de promessas bombásticas, nos últimos anos as ações de valor perderam feio para as chamadas ações de crescimento – pouco lucrativas e com valuations (arbitragem de valor) extremamente caros, sustentados por promessas e perspectivas mais que otimistas.

Em algum momento entre o final do século passado e o início do atual, o mercado passou a premiar promessas. Lucros e dividendos pareciam não ter mais a menor importância na decisão de se investir em ações.

Mas 2022 tem mostrado uma dinâmica muito diferente. Com juros em alta, além de uma possibilidade de recessão pela frente, os investidores de repente voltaram a se lembrar da importância dos resultados.

Empresas não param de pé apenas com promessas. Especialmente quando os juros estão elevados. Se antes o mercado parecia complacente com empresas queimadoras de caixa e às vezes até incentivava aventuras e comportamentos detratores de rentabilidade, agora o custo do dinheiro aumentou. O foco no retorno das companhias voltou a ganhar importância, e as apostas arriscadas dão lugar para o investimento em empresas sólidas, baratas e geradoras de caixa. Os "loucos" que investiam em empresas lucrativas estão mostrando quem realmente estava fora de si.

O ano de 2022 traz uma lição importantíssima para qualquer investidor. Quando as coisas ficam ruins, seja por conta de juros, recessão, guerra ou qualquer outro tipo de estresse, são os lucros e os dividendos que sustentam o preço das ações. Por mais que as coisas piorem, os investidores não se sentem pressionados para vender essas ações porque, além de baratas, elas ainda pagam proventos.

Ainda é difícil saber quanto e até quando os juros nos EUA vão precisar subir, e se essa dinâmica de pressão sobre as companhias de crescimento vai permanecer por muito tempo. Mas este momento exige investimentos em empresas sérias. É preciso um portfólio de ações mais concentrado em papéis de múltiplos baixos, de empresas geradoras de caixa capazes de atravessar qualquer momento difícil.

Um exemplo é Hypera (HYPE3), que além de ser uma ação barata e pagar bons dividendos, ainda atua no setor farmacêutico, que tende a permanecer estável mesmo em períodos de crise. Porém existem diversos outros nomes capazes de enfrentar essas dificuldades com muita resiliência.

Um grande abraço e até a semana que vem!

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