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A maré baixa mostrará quem está nadando pelado


  • Olhar Econômico
  • 04 de Maio de 2022 | 07h52
 Foto: Reprodução
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Parece que o tombo de 10% do Ibovespa visto em abril não foi suficiente para blindar a bolsa brasileira. O novo mês começou na mesma tomada que o anterior — com grandes dúvidas sobre o futuro da economia global e a pressão constante da elevação de juros para conter a inflação.

Hoje, teremos mais uma edição da Super Quarta, quando as decisões de política monetária dos Estados Unidos e do Brasil serão anunciadas no mesmo dia.

A inflação e a elevação dos juros, no entanto, estão longe de ser as únicas dores de cabeça. A pandemia do coronavírus na China inspira cada vez mais preocupação e a segunda maior economia do mundo deve segurar o crescimento em escala global, como já abordado anteriormente por esta coluna.

No Brasil, temos ainda um fator extra que promete não deixar que maio fuja da tradição. As eleições presidenciais ficam cada vez mais próximas e os pedidos para aumento de gastos do governo de Jair Bolsonaro pressionam o delicado ecossistema fiscal.

O Ibovespa chegou aos 106 mil pontos. O dólar se consolidou com folga acima da casa dos R$ 5. Para conter a escalada da moeda americana, o Banco Central brasileiro anunciou um leilão extra na segunda que injetou cerca de US$ 1 bilhão no mercado.

As economias dos países desenvolvidos estão passando pelo período mais difícil desde o início da pandemia, aumentando a probabilidade de que uma recessão possa estar chegando. Os Estados Unidos por exemplo, encolheu inesperadamente no primeiro trimestre de 2022, surpreendendo os analistas — resultado muito afetado pelo desequilíbrio no trimestre entre importações e exportações.

A razão da queda do PIB não ter gerado uma reação muito negativa do mercado foi que os gastos do consumidor estão se mantendo, ao menos por enquanto. Ainda assim, os investidores estão cada vez mais preocupados com o que acontecerá no próximo ano, quando a abordagem agressiva do Federal Reserve para combater os aumentos de preços realmente deverá surtir efeito.

Mas a preocupação não se restringe aos EUA. Na China, os dados mais recentes mostram que a atividade em manufatura e serviços caiu para seu nível mais baixo desde fevereiro de 2020. Enquanto isso, dados publicados na última sexta-feira mostraram que a economia europeia desacelerou nos primeiros três meses do ano.

Podemos estar caminhando para grandes problemas na economia global este ano. Para os investidores, isso demanda uma visão mais cautelosa para a exposição a risco, abrindo espaço para ajustes de posição diante do temor estagflacionário (preços e desemprego em alta, PIB sem progresso), uma realidade brasileira em 2022, mas que poderá ser comum ao redor do mundo a partir de 2023.

As estratégias de investimento pelo “growth”, ou que priorizam empresas de alto crescimento, ficaram populares durante boa parte dos últimos anos. Quanto menor fosse a taxa de juro, maior a procura por empresas com alto potencial de expansão. Com o capital barato demais, valia a pena correr o risco da empresa nunca dar lucro, apostando as fichas na pequena probabilidade de que fosse o próximo unicórnio.

Agora, o juro mais alto mostra que nem todo crescimento gera valor para os acionistas — em alguns casos, ele pode inclusive destruir. É o estouro da bolha tech: primeiro, no Brasil; agora, lá fora. Quase tudo cai, mas tem coisa que cai com mais força. Por aqui, entre as empresas de tecnologia, notadamente as que vieram para a Bolsa nessa última leva de IPOs, não são raros os casos de papéis que caíram 70% ou 80% desde suas máximas.

Os compradores de plantão argumentam que, após quedas dessa magnitude, fica difícil ignorar a oportunidade de compra. Todavia, não é porque caiu 80% que está barato — em alguns casos, continua caro. Por vezes, inclusive, pode estar mais caro ainda, depois das revisões dos lucros projetados pelo mercado, agora refletindo o cenário real à frente.

Temos alguns exemplos anedóticos de empresas que, quase no desespero de surfar a preferência dos investidores pelo “growth”, buscaram-no a qualquer custo. Lembra do caso da Evergrande, incorporadora chinesa que cresceu comprando estádios de futebol e operando parques de diversão, para depois se ver afundada em dívidas quando seus investimentos não deram o retorno esperado.

O crescimento a qualquer custo destrói valor. Porque, da mesma forma que o investidor analisa suas opções de investimento de forma relativa, sempre em comparação com o seu custo de capital, o empresário deveria fazer o mesmo com a empresa que está tocando. A companhia deveria somente investir em projetos de crescimento que produzem retorno superior ao seu custo de capital.

Não caia no conto do vigário — ou aparecerá pelado quando a maré baixar.

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