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Contaminação política no Segurança Presente causa insatisfação interna


  • Opinião NF
  • 22 de Abril de 2022 | 10h37
 Fotos: Arquivo/NF Notícias
Fotos: Arquivo/NF Notícias

A ideia de uma polícia mais presente e próxima à comunidade, inclusiva, com ações sociais e patrulhamento de áreas de maior movimento e incidência criminal é positiva. Neste ponto, o Segurança Presente diz em seu site que oferece um trabalho “complementar” ao da Polícia Militar de um policiamento mais ostensivo em determinados pontos, como acontece na área central de Campos ou em bairros do Rio de Janeiro. No entanto, é preciso olhar com lupa para problemas estruturais que acompanham o programa desde o seu surgimento, em 2013, como a questão de planejamento, divisão interna dentro da PM e, um dos mais graves, a contaminação política em um trabalho que precisa ser de Estado e não eleitoreiro.

Por baixo dos coletes reluzentes e dentro das viaturas diferentes do Segurança Presente, estão, majoritariamente, policiais militares. Eles possuem regime diferenciado para pagamentos e, apesar disso, respondem diretamente à Secretaria de Estado de Governo e não à Secretaria de Estado de Polícia Militar. Além disso, o projeto possui uma sede própria destacada do batalhão da PM. Conversando com colegas de farda, é nítidas a divisão interna dentro da corporação por causa do programa. 

Afinal de contas, por qual motivo o Segurança Presente não pode ser um programa da própria Polícia Militar? Aliás, nem precisaria de um programa específico para isso. Com o dinheiro investido em viaturas, coletes, base, pagamentos e outras coisas, daria para equipar e valorizar os policiais militares do 8º BPM, por exemplo. Realmente é necessário ter um patrulhamento mais ostensivo na área central, mas ele não poderia ser realizado pela própria PM se houvesse esse reforço de investimentos?

O policial militar do Rio de Janeiro é mal remunerado e sai de casa sem saber se volta para sua família. Somente em 2021, foram 91 agentes assassinados no estado. Quando um bandido é preso ou alguma outra ocorrência é registrada, existe uma disputa velada sobre quem vai aparecer na foto. Só que, independente de Segurança Presente ou não, é o policial militar que está com a cara na reta, usando a linguagem popular.

E essa preocupação com a contaminação política é um ponto fundamental. Como falamos, o programa está vinculado à Secretaria de Governo, que é o órgão que cuida da governabilidade política do chefe do Executivo. Quando desembarcou em Campos, em 15 de janeiro, o Segurança Presente foi apresentado pelo governador Cláudio Castro ao lado do então secretário de Governo – hoje licenciado para disputar as eleições de outubro – o influente campista Rodrigo Bacellar. Foi ele também responsável por levar o projeto para Macaé e outros pontos do Rio de Janeiro.

No final das contas, essa expansão está sendo bancada pelos cofres cheios do Governo do Estado por causa da concessão da Cedae justamente próximo ao período eleitoral. Porém, quando esse dinheiro acabar e as eleições passarem, quem garante que o programa será sustentado? Se o investimento ficasse na PM, poderíamos saber que o retorno seria certo porque ela é um órgão de Estado e não de Governo. Mas com a contaminação política de um assunto tão sério, não temos certeza se o Segurança Presente não vai se tornar ausente em um futuro não muito distante.

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