A vida financeira dos brasileiros nunca mais foi a mesma desde que surgiram as novas empresas de tecnologia que atuam no setor, as chamadas fintechs. Com um celular na mão, hoje é possível abrir uma conta gratuita em questão de minutos em instituições digitais, que vêm roubando clientes dos grandes bancos.
Se manter uma conta digital já não é mistério para quase ninguém, que tal então fazer o seguro do seu carro por empresas que nasceram no mundo digital? Seja bem-vindo ao mundo das insurtechs. O termo que mistura, em inglês, seguradoras (insurance) com tecnologia, foi usado para batizar as novas empresas que vieram concorrer com as seguradoras tradicionais.
Essas empresas vêm caindo no gosto dos donos de automóveis pela facilidade, menor burocracia e coberturas diferenciadas. Por meio de aplicativos, softwares, inteligência artificial, learning machine, telemática, internet das coisas e outros recursos, buscam estar mais próximas dos clientes.
Para quem pensa que as startups concorrem com as grandes seguradoras, na verdade, elas são empresas menores que podem ser adquiridas ou até prestar um serviço para complementar os da seguradora. Além de servir a nichos de mercado nem sempre atendidos pelas tradicionais: carros antigos (mais de 10 anos), recuperados de sinistro e comprados de leilão, por exemplo.
É bom lembrar que a proteção para automóveis até um tempo atrás era feita apenas pelas seguradoras tradicionais, regulamentadas pela Susep (ou Superintendência de Seguros Privados). Há cerca de dois anos permitiu-se uma flexibilização do segmento, com mais opções, como apólices com reembolso automático, seguro por utilização (pay-per-use) e até seguros de partes do carro (por exemplo, só a frente).
De acordo com a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNseg), 70% da frota brasileira não possui cobertura de seguro.
Nos últimos cinco anos, o volume de insurtechs triplicou no Brasil. E por que são mais acessíveis? Porque suas soluções tecnológicas permitem entender melhor cada cliente, de forma mais dinâmica.
Se antes as tradicionais seguradoras usavam um perfil engessado, no qual, por exemplo, quem usava muito o carro pagava um seguro próximo do que aquele motorista que mal saía de casa, hoje os algoritmos são aliados para entender o segurado e reduzir custos, para quem, nesse caso, representa menos risco.
Por meio das insurtechs, os clientes estão mais alinhados às tendências dos autosserviços por canais digitais. Podem fazer planos mensais (e não só anuais) e têm à sua disposição o seguro apenas quando usam o carro, ou pay-per-use.
Os valores precisam ser analisados com calma, porque o preço em si não é um diferencial, e sim sua flexibilidade. Enquanto a grande seguradora costuma buscar volume de negócio, essas empresas vão para o nicho ou para clientes das classes C, D e E. Buscam também premiar por exemplo quem dirige pouco ou dirige bem. Sim, a forma de dirigir pode garantir descontos, a partir do score, de 0 a 100 em comportamento. Quem dirige menos também paga menos.
Premiar bons motoristas e cobrar seguro intermitente são os chamarizes da Justos, uma das empresas que pesquisei para elaborar esta coluna. A Pier, outra insurtech que também virou seguradora pelo Sandbox da Susep, diz que oferece um serviço com valor 30% abaixo do mercado, incluindo carros de leilão, de donos com dívidas ou CPF negativado, carros em nomes de terceiros e motoristas de aplicativo.
Por serem relativamente novas no Brasil, vemos muitas coisas favoráveis em relação às insurtechs, baixo índice de reclamações e facilidades. Mas a falta de um atendimento ampliado, como canal de distribuição via corretores ou bancos, pode frustrar clientes menos acostumados a lidar apenas com tecnologia.
Todas as seguradoras têm meios de atendimento digital, nem sempre apreciados, enquanto uma boa parcela dos clientes valoriza o contato humano. Mas a proposta enxuta das insurtechs não prevê necessariamente isso.
O uso de telemetria para entender o perfil do motorista e até premiá-lo não é exclusivo das startups. Grandes seguradoras também fazem uso de novas tecnologias até como forma de prevenção: caso o motorista esteja próximo de uma região alagada, o sistema vai alertá-lo por meio de mensagens.
Acredito que as insurtechs estão numa onda de crescimento e ganharão mais visibilidade, sempre complementando algo que as grandes seguradoras não têm ou algo diferenciado para atacar um nicho. Existe uma tendência também delas serem adquiridas pelas seguradoras, ou surgirem alianças, e ainda ficarão com uma fatia pequena do mercado.
As insurtechs parecem olhar muito para o público jovem, totalmente digital, que quer facilidade, quer preço competitivo e não se preocupa com as grifes dos seguros tradicionais (atreladas à confiança). Essas maiores, por sua vez, têm atendimento físico ou diferenciado no call center, mas cobram mais por isso.
7 Dicas antes de contratar um seguro:
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