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Com qual frequência você muda de opinião?


  • Olhar Econômico
  • 23 de Março de 2022 | 07h48
 Foto: Reprodução
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A semana começou com o pé direito para os investidores brasileiros. A bolsa renovou o seu melhor momento do ano até aqui e o dólar voltou abaixo da casa dos R$ 5 pela primeira vez desde junho de 2021. O bom desempenho das empresas de maior peso no Ibovespa garantiram o saldo positivo e o fluxo de dinheiro entrando no país aliviou o câmbio. A continua alta do petróleo e a perspectiva de que o governo chinês permanecerá estimulando a economia levou as produtoras de commodities a ampliarem os ganhos. Teve espaço até para a Petrobras, que vinha sofrendo com os ruídos políticos nas últimas semanas.

Hoje porém gostaria de levantar um questionamento que venho me fazendo há algum tempo. Em 2014 tive a oportunidade de estar pessoalmente no que é considerado a meca do mercado financeiro global. A reunião anual da Berkshire Hathaway - empresa do famoso investidor Warren Buffet - é sempre aguardada pela possibilidade de networking como também pela divulgação de sua carta aos acionistas.

O Oráculo de Omaha, como por vezes Buffet é chamado, possui uma máxima de que o investidor deve escolher empresas de ótimos negócios, com um time de gestão fora da curva, comprar suas ações e as segurar a perder de vista.

Ocorre que no estouro da pandemia, ele foi um dos primeiros a vender todas as ações que possuía no setor aéreo americano. Apesar de ter mantido as empresas por vários anos, ele não hesitou em mudar de opinião sobre elas após ter ficado claro que o mundo passaria por um período de pouca mobilidade.

Já agora em 2022, alguns dias depois do início da guerra na Ucrânia, observei uma outra mudança do megainvestidor: cessaram as manchetes dele comprando empresas de tecnologia e passei a ver notícias sobre ele ter comprado ações de uma petroleira. Faz sentido pois tudo aponta para um cenário aquecido em commodities. Choques negativos na oferta (gargalos nas cadeias produtivas, guerra), aliados à demanda aquecida pela reabertura pós-pandemia, produzem condições ideais para a subida de preço desses produtos. Venho inclusive tratando deste cenário em minhas últimas colunas.

Olhando à frente, contudo, podemos estar diante de uma nova inversão de cenário. Uma potencial necessidade de novamente mudar de opinião.

Isso porque esses mesmos choques que produzem altas para as commodities geram também inflação. O primeiro e mais clássico recurso usado para seu controle é o aumento da taxa de juros básica da economia, o que eleva o custo do dinheiro, desestimula a demanda agregada por bens e assim enfraquece a pressão sobre os preços.

Seguindo nesta linha, se os juros ao redor do mundo subirem o suficiente, a demanda pelas commodities pode ser afetada. Sem demanda, não há escassez que justifique a manutenção de preços tão altos. Só lembrar que a demanda por minério, aço, petróleo e papel, por exemplo, depende da disposição das empresas para investir e/ou das famílias para consumir.

Pensa comigo: se por um lado uma eventual alta exagerada dos juros prejudicaria a demanda por commodities, por outro quem seria beneficiado? Certamente os bancos, na medida que seus spreads aumentariam.

Da frase do Oráculo de Omaha de que “nosso período favorito para estar comprado é para sempre”, posso interpretar que ele prefere segurar uma boa empresa por muito tempo, o que não significa ser sempre possível fazer isso. O cenário muda e como o próprio Buffett já mostrou, é preciso ser capaz de mudar de opinião e agir. Caso contrário, ou seja, se formos conservadores demais com nossas visões originais, corremos o risco de sermos os últimos a perceber as coisas, sofrendo prejuízos desnecessários. O fato é que colocamos nossas convicções à prova a cada dia.

E você, com qual frequência muda de opinião?

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