Uma das máximas mais conhecidas da política foi talhada pelo ex-deputado federal e ex-governador de Minas Gerais José de Magalhães Pinto (1909-1996). Ele dizia que política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e já mudou. Em seis meses à frente da Prefeitura de Campos, Wladimir Garotinho (PSD) também provou a máxima de que ninguém governa sozinho. Em um momento de enorme fragilidade financeira – potencializada pela pandemia de Covid-19 – as parcerias com os Legislativos municipal, estadual e federal têm sido fundamentais para que o maior município do interior fluminense possa respirar e avançar.
Não é novidade para ninguém que a queda na arrecadação, principalmente dos royalties do petróleo, foi severa com Campos. É praticamente impossível que a cidade volte a ter nos cofres os mesmos valores do passado. Com salários dos servidores em atraso e os gastos acima do teto da Lei de Responsabilidade Fiscal, Wladimir teve de, praticamente, trocar os quatro pneus com o carro chamado Prefeitura ainda andando. E, até agora, só mexeram em um dos pneus.
Neste cenário, não existe outra saída a não ser por meio de parcerias porque a Prefeitura de Campos não tem condições de ficar em pé com as próprias pernas. Sabendo disso, o prefeito mostrou habilidade para buscar alianças importantes com a Câmara Municipal, com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e com a bancada da região em Brasília.
A parceria com a Câmara Municipal foi importante para reconhecer a situação de calamidade financeira e buscar as discussões para melhorar a situação fiscal. Ninguém nega que o momento é difícil, mas também é preciso dizer que faltou ao governo melhor comunicação e poder de negociação na apresentação do pacote de medidas de austeridade. Das 13 propostas, 12 foram aprovadas e a última – que envolveria uma mudança no Código Tributário – acabou saindo de pauta.
O episódio resultou no racha da base governista na Câmara. Do apoio de pelo menos 23 dos 25 vereadores, em janeiro, Wladimir perdeu a maioria na Casa. Em um piscar de olhos, a nuvem já mudou, como dizia Magalhães Pinto. Como efeito dominó, o caso também provocou uma minirreforma administrativa no Executivo, com a saída de nomes ligados aos dissidentes e ampliação do espaço aos parlamentares mais leais.
A necessidade de melhorar a articulação com a Câmara levou o prefeito a nomear o vereador Juninho Virgílio (Pros) para comandar a Secretaria Municipal de Governo. Agora, Wladimir terá um importante trabalho de reconstruir as pontes com a Casa de Leis para garantir governabilidade. Aliás, essa troca leva de volta ao Legislativo o ex-presidente Edson Batista, um velho conhecido da família Garotinho.
Enquanto isso, as pontes continuam sólidas com a Alerj e a Câmara Federal. Wladimir passou dois anos em Brasília como deputado e tem usado a experiência para ampliar as parcerias com parlamentares como Christino Áureo (PP), Julio Lopes (PP) e Clarissa Garotinho (Pros). Aliás, a irmã do prefeito foi responsável, recentemente, pelo envio de R$ 20 milhões em emendas. Os recursos dão alívio necessário aos cofres do município em tempos de crise e permitem investimentos em áreas que a Prefeitura não teria condições sozinha.
Um dos melhores exemplos da importância de parcerias vem da Alerj e do Governo do Estado. Alinhado com o Palácio Guanabara, o prefeito Wladimir Garotinho tem na capital fluminense um de seus principais e mais leais aliados, o deputado estadual Bruno Dauaire (PSC). O parlamentar foi titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos por seis meses. Apesar do curto período, Dauaire e Wladimir trabalharam juntos para a reabertura abertura do Restaurante Popular.
ALERJ
De volta à Alerj, Bruno reassume a cadeira de deputado em um momento chave, quando Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana ficaram sem nenhum representante na Assembleia, uma vez que Rodrigo Bacellar (SD) assumiu a Secretaria de Estado de Governo. Com a missão de buscar incentivos para a região, Bruno Dauaire ganhou mais prestígio junto ao governador Cláudio Castro (PL) e tem a confiança de Wladimir.
Todos sabiam que os desafios seriam enormes para qualquer um que sentasse na cadeira de prefeito a partir de 1º de janeiro de 2021. E estes seis primeiros meses de governo não só provaram isso, como reafirmam quem ninguém consegue governar sozinho. Wladimir sabe bem disso. E, para evitar que as nuvens da política se dissipem rápido, a busca por parcerias é o único remédio. Até porque, acima de qualquer disputa, está a população de Campos.
Por Cleyton Lacerda
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